
Grande favorito na temporada de premiações, o filme de Brady Corbet tem sido indiscutivelmente promovido como uma obra grandiosa. Além da longa duração, acompanhada de intermissão, Corbet parece reforçar a todo momento que sua intenção era, de fato, fazer Cinema com C maiúsculo.
Em O Brutalista, temos uma história de contexto histórico pertinente – e talvez super utilizado – contada ao longo de vários anos, e que traz, de fato, grandes temas, atuações e ambições.
Tudo é apresentado com uma linguagem semi-biográfica que faz o protagonista parecer inspirado em uma figura real, apesar de não ser. Porém, através do realismo estilístico, O Brutalista é, ironicamente, uma grande metáfora metalinguística, já que se trata exatamente do que você está assistindo: um filme. Ou melhor, sobre produtos artísticos em geral. E toda a dor, sacrifício, abusos, e dinâmicas de poder por trás destes.

László Tóth (Adrien Brody) é um arquiteto brutalista húngaro que se vê obrigado a se separar da sua mulher (Felicity Jones) e da sobrinha (Raffey Cassidy) ao ser enviado a um campo de concentração. Ao sobreviver, o arquiteto é enviado aos Estados Unidos, junto a milhares de outros imigrantes oriundos do período pós-guerra.
Sim, a premissa não é exatamente original. Então, como se alimenta o adjetivo ‘grandioso’? Primeiramente, o filme possui colossais 3h35m de duração e é intercalado por uma intermissão de 15 minutos que separa a primeira metade da obra da segunda.
Aqui, o que Brady consegue trazer esteticamente é impressionante, especialmente sabendo que o filme custou menos de 10 milhões de dólares. Os cenários, somados à produção de design, o figurino, e o formato de filmagem VistaVision dão ao filme um visual onírico, obscuro, e pouco saturado, que lembra muitíssimo os grandes clássicos do cinema norte-americano da década de 1970.
Mas o aspecto mais ambicioso da obra está na metáfora atemporal alimentada pelos seus dois combatentes: László Tóth, o arquiteto, Vs. Harrison Van Buren, seu contratante (Guy Pearce). Ambos os trabalhos são excelentes e justificam as indicações ao Oscar dos dois atores.
O embate central entre figuras masculinas fortes e opositoras em meio à construção de uma “Nova América”, assim como o estilo visual e ambição narrativa de Corbet, já evocaram comparações a grandes filmes como “Sangue Negro”, de Paul Thomas Anderson, e “Era Uma Vez na América”, de Sergio Leone.
Mas por que essas inspirações parecem gigantes inalcançáveis quando comparadas à obra de Corbet?
Talvez porque somente ambição não seja sinônimo de pertinência criativa. E, apesar de ser recheado de boas intenções, o filme de Corbet se fundamenta em um roteiro que não possui fluidez ou perspicácia o suficiente para equivaler-se às obras com as quais é constantemente comparado.
É como se Corbet quisesse ser grande simplesmente pelo prazer de poder sê-lo – ao menos, superficialmente. A discrepância temática entre a primeira e a segunda parte do filme torna-se, também, uma queda qualitativa. Queda esta que talvez não fosse tão problemática se a segunda parte não parecesse ser, essencialmente, a história que o diretor realmente veio para contar.
Nesse contexto, a primeira metade nos parece mais um exercício de como construir, parcialmente, (o que poderia ter sido) um grande filme. Os elementos importantes e aspectos temáticos são fincados na porção inicial, mas a falta de ritmo e naturalidade com os quais grandes acontecimentos são apresentados na porção final parecem nos privar de um filme mais bem resolvido.
O desfecho do relacionamento truculento entre as duas figuras principais do filme, claros representantes do embate imortal na indústria cinematográfica entre Criador Vs. Financiador, apesar de chocante, é morno. A conclusão nos rouba de quase tudo aquilo que o filme poderia ter sido. Faltou controle, sutileza e, ironicamente para um filme tão longo, paciência na hora de finalizar o embate que alimentava a metáfora central do filme.
O Brutalista é visualmente deslumbrante e conta com atuações memoráveis, mas carece da sensibilidade e consistência narrativa necessárias para criar o épico criativo que almejava ser desde o primeiro minuto.