
Sendo o grande homenageado da 17ª edição do Festival Lumière, Michael Mann coleciona, em sua filmografia, excelentes exemplos de obras do cinema de ação. Talvez uma das menos lembradas seja Inimigos Públicos, lançado em 2009, que merece ser revisitado, sobretudo pelos fãs dos clássicos filmes de gângster à la Scarface de 1932.
Nos Estados Unidos, nos anos 30, no auge dos assaltos a bancos e da crescente fama de criminosos como Al Capone, o cinema se apropriou dessa onda de violência do crime organizado para contar essas histórias com o espetáculo que sempre entretém os espectadores, provocando, às vezes, uma admiração por personagens que são criminosos, mas, acima de tudo, cativantes. Um estilo que ainda repercute em produções atuais, como o fenômeno da Netflix, Peaky Blinders.
O longa de Mann não difere nesse ponto, principalmente ao trazer Johnny Depp no papel do elegante e carismático John Dillinger, procurado número 1 do então recente e ainda precário FBI, que buscava se afirmar como órgão governamental necessário para combater o crime organizado. Christian Bale, interpretando o determinado agente federal Melvin Purvis, serve como contraponto a Dillinger nessa constante caçada, deixando o espectador dividido sobre para quem torcer ao final da história.

O diferencial do filme está em ser autoconsciente quanto à espetacularização da figura do gângster bem-vestido, com ar de Robin Hood e charme de galã, que conquista a bela e irresistível Billie Frechette, interpretada pela atriz francesa Marion Cotillard, papel que a estabeleceu em Hollywood. Esse encantamento é ainda mais reforçado pela excelente direção de arte e pela cuidadosa reconstrução de época.
As cenas de ação incorporam a influência da câmera tremida, característica marcante do cinema de ação dos anos 2000, mas, com a experiência de Michael Mann, nada soa genérico ou cansativo. O filme é, antes de tudo, um cinéfilo celebrando um estilo que se tornou parte fundamental da história do cinema, combinando conflitos eletrizantes, tiroteios intensos, um ar de sofisticação e, até mesmo, pitadas de humor.