A Substância e a superficialidade em críticas poderosas

Demi Moore protagoniza o filme de terror corporal
Demi Moore é Elisabeth, papel que lhe rendeu um prêmio no Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz / Foto: Divulgação

Quem nunca se pegou pensando em melhorar algo – principalmente – no corpo? Aqui trarei uma análise mais pessoal, mas para nós, mulheres, essa pressão estética nos assombra do nascimento até a morte, nos empurrando a um ideal inatingível. Quando falamos em pressão estética, falamos de toda uma construção cultural que reforça a desigualdade de gênero. Em O mito da beleza (1990), Naomi Wolf defende que o padrão de beleza é usado para manter as mulheres inseguras, sendo uma nova forma de controle do corpo e até mesmo do intelecto feminino. A partir dessa premissa se desenvolve o filme A Substância, dirigido por Coralie Fargeat. No longa acompanhamos Elisabeth (Demi Moore), uma estrela em decadência que decide usar uma nova droga que circula no mercado ilícito. Uma substância que cria, temporariamente, a sua melhor versão.

Uma proposta simples para um tema universal. O longa usa do maximalismo, do body horror e o choque para entregar a sua mensagem. Cada frame serve um visual único enquanto o trabalho do som gera desconforto e ansiedade. Uma combinação perfeita – se me permite a generalização – para um filme de terror contemporâneo. Porém algo parecia desconectado enquanto eu assistia ao filme, mesmo com essa ambientação cautelosa. Preciso ressaltar que já assisti filmes de dinossauros na Terra nos anos 1990 e alienígenas gigantes azuis lutando contra a colonização, mas não consegui acreditar em A Substância.

Sim, eu acho que muita gente seria capaz de abrir mão de sete dias da sua vida por um vislumbre da sua forma perfeita, eu só não acho que esse alguém seria a Demi Moore. E aqui eu culpo a forma como o filme escolhe abordar esse assunto, pois pouco se esforça para me convencer de que essa é uma realidade possível. O roteiro se apresenta de forma óbvia e pouco aprofundada, até mesmo repetitiva, limitando-se a uma metáfora simples sobre juventude e etarismo. Esse enredo – que poderia se aprofundar na complexidade da relação das mulheres com os seus corpos, envelhecimento e sociedade – prefere se manter no raso trazendo um desenvolvimento previsível que se esconde nos exageros que identificam o gênero.

Esse esvaziamento reflete na própria protagonista. A Elisabeth nos é apresentada, num primeiro momento, como uma mulher confiante e que se vê aterrorizada e disposta a arriscar tudo para manter as aparências. Mas, para além do óbvio, por que a juventude é tão importante para ela? Como é, verdadeiramente, a sua relação com a sua própria imagem? Entre tantos outros questionamentos que surgem, o filme acaba seguindo a linha do visual chocante que impressiona, mas não adiciona camadas reais ao debate.

Ao final, A Substância deixa aquela sensação de que poderia ter ido muito além. Sem uma discussão consistente e duradoura, o longa opta pelo raso, tirando a própria complexidade de análise daquilo que critica. Um filme intenso, visualmente lindo e que, ironicamente, acaba sendo refém da própria estética.

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