Conclave: Homens disputam o poder, quando o sagrado já não importa

O filme, estrelado por Ralph Fiennes, é um dos grandes favoritos na temporada de premiações
Conclave recebeu oito indicações ao Oscar / Foto: Divulgação

Em seu trabalho anterior, Nada de Novo no Front (2022), Edward Berger já buscava subverter os gêneros ao apresentar um filme de guerra em que as burocracias dos Estados em conflito se enfrentam, enquanto vidas são perdidas nas trincheiras. Agora, em seu novo filme, Conclave, ele entrega um suspense ambientado inteiramente no Vaticano, focado na escolha de um novo Papa — um tema que, por si só, desafia a sacralidade da Igreja Católica.

O Papa faleceu, e agora é necessário reunir o Colégio de Cardeais para decidir quem ocupará o trono papal. Dito isso, em Conclave, acompanhamos um dos eventos mais secretos do mundo: a escolha do novo representante da religião.

Lawrence (Ralph Fiennes), também conhecido como Cardeal Lomeli, é designado para conduzir essa reunião confidencial após a morte inesperada do pontífice. Sem compreender completamente a razão, o personagem foi escolhido pessoalmente para liderar o conclave, como última ordem do Papa antes de sua morte. Assim, os líderes mais influentes da Igreja Católica, vindos de diversas partes do mundo, se reúnem nos corredores do Vaticano para participarem da seleção, cada um com seus próprios interesses e intenções.

É interessante pensar no famoso ditado: “não se discute política e religião”. Considerando que, no contexto social, tudo é política — inclusive a religião —, o diretor Edward Berger e o roteirista Peter Straughan trabalham muito bem essa dinâmica quase jornalística dentro da investigação política sobre quem será o novo Papa.

Ralph Fiennes, no papel do Cardeal Lawrence, encarna perfeitamente a narrativa do projeto, transmitindo o peso da responsabilidade e a melancolia de lidar com a política inerente à escolha do sucessor. Isso é fortemente evidenciado pela fotografia, que ressalta o quão encurralado ele está diante da arquitetura maximalista e sacra do Vaticano — destacando sua insignificância e lembrando-o constantemente da culpa de destruir a aura sagrada daquele espaço ao se envolver na trama que acontece ao seu redor.

É evidente que há um jogo político na narrativa. Cada um dos candidatos a Papa faz suas jogadas, como se houvesse um tabuleiro de xadrez composto apenas por bispos, e a cada verdade revelada, o rumo da disputa muda completamente. A personagem de Isabella Rossellini funciona muito bem nesse contexto.

Com isso, Berger traça uma analogia com a realidade em que vivemos, demonstrando que, em jornadas conspiratórias, o perigo fascista sempre espreita e que, tal qual na vida real, a qualquer momento ele pode ressurgir.

O mais curioso é ver essa narrativa funcionando tão bem como um suspense, que flutua entre os mistérios daquele microcosmo e, pontualmente, até brinca com toques de humor muito sutis. Conclave não é um filme que pede por risadas, mas mantém um senso de humor refinado, seja na cena do cardeal fumando vape ou nas notícias que correm como fofocas de um lado para o outro entre esses homens “santos” que carregam o peso da Igreja nas costas.

Consequentemente, Lawrence se sente como um rato preso em um labirinto, andando de um lado para o outro, esbarrando em corredores confusos que parecem não ter fim e apenas levá-lo de volta ao mesmo lugar. A montagem invisível e a fotografia estável escondem o turbilhão de emoções que passa pela cabeça do protagonista — até o momento em que ele percebe estar totalmente alienado do mundo real, sensação evidenciada pela excelente sequência do ataque.

Ele entende que, para sair desse labirinto, é preciso quebrar as paredes. Esse momento, por fim, fortalece ainda mais o impacto do desfecho do filme.

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