Um caminho perdido

Texto de Barbara Câmara, jornalista e entusiasta de filmes de terror
Os irmãos Philippou merecem todo o reconhecimento que têm por sua originalidade mas, dessa vez, erraram a mão / Foto: Divulgação

Como forma de arte, ‘Faça Ela Voltar’ (Bring Her Back, 2025) cumpre bem a missão de fazer o espectador sentir. Há um catálogo inteiro de emoções a ser percorrido ao longo do filme, e quase nenhuma delas é positiva. O fato por si só não é um problema, afinal, não é função da obra manter o público confortável. O problema está nos recursos escolhidos para contar a história – é daí que nasce a maior fonte de frustração desse longa.

O segundo projeto de estúdio dos irmãos Michael e Danny Philippou – conhecidos por ‘Fale Comigo’ (Talk to Me, 2022) e pelo canal RackaRacka no YouTube – chega três anos após o sucesso do trabalho de estreia dos cineastas. O novo projeto segue os passos do anterior explorando temas sombrios, e as obras compartilham algumas semelhanças notáveis.

Ambos os filmes são protagonizados por adolescentes que perderam os pais, o que estabelece o luto como tema central. O sobrenatural e, mais especificamente, a possessão de crianças, são elementos usados nas duas obras, assim como o gore, que é elevado a uma nova potência em ‘Faça Ela Voltar’. 

A bela cinematografia e as excelentes performances do elenco não foram suficientes para impedir a obra de seguir por um caminho que destoa – e muito – da mensagem central. O que poderia ser uma reflexão profunda sobre como o luto pode influenciar a saúde mental se transforma em uma espécie de “disco riscado”, em que o som que mais se repete é a violência. O trecho a seguir não contém spoilers diretos, mas aborda superficialmente momentos centrais do filme. Para evitar, pule para o último parágrafo. 

As cenas mais intensas do filme retratam formas de automutilação em que a vítima é uma criança. Ao contrário de ‘Fale Comigo’, em que o mesmo exato elemento foi usado de forma mais breve e com um propósito, aqui, a angústia é injustificável. A conexão entre esses atos e o ritual exibido em flashes não é abordada em momento algum. A violência gráfica excessiva é comum a outros exemplares do terror, e é fácil identificar quando a obra se propõe a isso – vide a franquia Terrifier. Esse, porém, não é o caso de ‘Faça Ela Voltar’.

O filme assume um tom sensível para a dinâmica entre os protagonistas, mas se volta a um gore pesado para um personagem de 10 anos de idade. A premissa criativa acaba se perdendo em escolhas questionáveis, com algum grau de incoerência.

Com a atuação surpreendente de Sally Hawkins e dos atores mirins Billy Barratt, Sora Wong e Jonah Wren Phillips, ‘Faça Ela Voltar’ é um trabalho tecnicamente bem executado que trilha um caminho promissor, se dispersa e acaba em um beco sem saída. Os irmãos Philippou merecem todo o reconhecimento que têm por sua originalidade mas, dessa vez, erraram a mão.

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