
Críticos reunidos no Festival de Veneza lembraram que já foram produzidos mais de 400 filmes inspirados em “Frankenstein”, seja em adaptações diretas do romance de Mary Shelley, seja em obras que apenas utilizam elementos de sua narrativa. De clássicos com Boris Karloff nos anos 1930 até a versão excêntrica de Yorgos Lanthimos em Pobres Criaturas (2023), a história do cientista que cria um monstro ao desafiar a morte já se tornou amplamente conhecida.
Diante disso, muitos questionaram: qual o sentido de revisitar um enredo tão explorado? Para os críticos, a resposta veio com a estreia do novo longa de Guillermo del Toro, que apresentou sua visão pessoal em Frankenstein, recebido com aplausos em Veneza.
Segundo análises divulgadas no festival, del Toro manteve os temas centrais do texto de Shelley — como o preconceito diante do diferente e a condição do pária que se volta contra a sociedade — mas deslocou o foco da relação entre criador e criatura para a dinâmica entre pai e filho. Essa abordagem já se anuncia no início, quando o pai de Victor Frankenstein aparece não como o homem bondoso do livro, mas como uma figura violenta e opressora. Para os críticos, essa mudança explica o caráter frio e obsessivo de Victor na vida adulta, refletido no modo como trata a criatura que concebe em laboratório.

As observações também destacaram o desempenho do elenco. Jacob Elordi teria convencido em partes em que o monstro é desajeitado, mas foi considerado pouco crível em cenas de fúria e destruição. Já Oscar Isaac, mesmo sem entregar uma atuação brilhante, foi elogiado por dar energia ao Victor Frankenstein na primeira metade do filme. A partir do momento em que o foco migra para a criatura, contudo, muitos apontaram perda de ritmo e excesso de lamúria na narrativa.
Outro ponto comentado foi a correção de um aspecto polêmico do romance: a relação entre Victor e Elizabeth. Na obra original, ela era irmã adotiva do cientista, gerando uma conotação incestuosa. del Toro alterou a trama, transformando-a em cunhada, papel vivido por Mia Goth. Críticos ressaltaram que a atriz se destacou nas cenas iniciais, mas lamentaram que, na segunda metade, sua personagem tenha perdido intensidade, aproximando-se da versão de Shelley.