Uma festa de arromba: Jovem Guarda completa 50 anos

Eles carregavam o frescor de uma música descompromissada em um Brasil que atravessava os anos sombrios da ditadura militar
O nome Jovem Guarda, em contraponto à chamada Velha Guarda — como eram muitas vezes chamados os cantores da Era do Rádio — passou a abrigar outros compositores e intérpretes de estilo meio beatlemaníaco / Foto: Divulgação

22 de agosto de 1965. A tarde estava ensolarada quando as batidas eletrizantes de um rock despretensioso invadiram as telinhas da antiga TV Record. Muitos ignoraram o som, chegando a criticá-lo, mas parte da juventude ficou hipnotizada pelos autores dos acordes: Roberto e Erasmo Carlos, acompanhados pela voz terna de Vanderleia. Todos gozavam do fulgor daqueles que almejam o sucesso.

A apresentação não foi por acaso. Naquele dia, o trio inaugurou o programa Jovem Guarda, que durante três anos conquistaria recordes de audiência, desbancando até a tradicional transmissão do futebol. O que poucos imaginavam é que aquele programa não apenas marcaria gerações, mas também influenciaria profundamente a música brasileira.

O nome Jovem Guarda, em contraponto à chamada Velha Guarda — como eram muitas vezes chamados os cantores da Era do Rádio — passou a abrigar outros compositores e intérpretes de estilo meio beatlemaníaco. Eles carregavam o frescor de uma música descompromissada em um Brasil que atravessava os anos sombrios da ditadura militar. Por isso, também enfrentaram críticas e apedrejamentos, mas a rejeição não prevaleceu nas camadas populares, que os receberam com entusiasmo.

Além de Roberto, Erasmo e Vanderleia, a Jovem Guarda era composta de nomes como Ronnie Von, Martinha, Rosemary, Paulo Sérgio, Sylvinha Araújo, Demétrios, Sérgio Reis, Eduardo Araújo, Vanusa, Lilian, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, Ed Wilson e muitos outros. Era uma festa de arromba! De conjuntos e bandas, ainda se destacavam os The Fevers, Renatos e seus Blue Caps e os Pholhas. E não parava por aí, até cantores de outro gêneros como Agnaldo Timóteo e Agnaldo Rayol, em alguns momentos flertaram com aqueles Brasas moras. Aliás, a Jovem Guarda implementou naquela juventude um novo jeito de falar, de se portar e até mesmo de levar a vida.

Apesar das já mencionadas reprovações, alguns importantes nomes iriam cair em defesa desses cantores, como a incrível Nara Leão, a mais bossa-novista das vozes femininas brasileiras. Ela, foi uma das primeiras “sofisticadas” a se render ao repertório de Roberto Carlos e Erasmo, dedicando um álbum só para dar voz às composições deles. Tim Maia, também, o rei do soul brasileiro, também começou entre aqueles jovens da Tijuca, porém depois de discordâncias, a amizade se rompeu, mas nunca renegou o início em comum com os colegas de Jovem Guarda.

Bem, nos efervescentes anos de 1960, cada artista seguiu carreira distinta. Os verdadeiros adeptos a Jovem Guarda, digo aqueles que a seguiram até o fim, decaíram e pouco se ligaram ao sucesso. Muitos dos que ainda estão vivos, se contentam em fazer shows em programas de auditórios ou em boates de qualidade duvidosa. Já os que integraram o repertório romântico, seguiram na mídia, teve até quem virasse Rei! Independente de percurso, a Jovem Guarda segue na memória afetiva do brasileiro em seus 60 anos de percurso, o que é louvável.

Misturando rock, pop, ie-ie-ie e até o brega, os antigos ídolos escreveram um interessante capítulo do cancioneiro nacional e isso, ninguém tira!

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