O que não te falam sobre o home office

Texto de Tiago Amora, cartunista e ilustrador cearense desde 1989
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Existem algumas armadilhas dentro desse conceito sobre as quais pouco se fala. Listo, a seguir, alguns pontos para refletirmos / Foto: Divulgação

O trabalho remoto não é uma novidade. Existe desde o século XIX, com o uso do telégrafo. Nos anos 1970, ganhou tração durante a crise do petróleo, como alternativa para reduzir os custos com deslocamento. Na década seguinte, foram realizados os primeiros testes com o teletrabalho. Já nos anos 1990, com o advento da internet e dos computadores pessoais, o conceito de home office começou a se disseminar como uma prática mais comum.

No Brasil, a prática do trabalho remoto — o conhecido home office — ganhou força durante a pandemia de Covid-19, contexto em que as pessoas ficaram isoladas em suas casas durante a quarentena, que se estendeu por longos três anos. Empresas foram obrigadas, por motivos de força maior, a dispensar seus funcionários dos ambientes físicos, e o trabalho remoto surgiu como uma opção viável para manter a roda da economia girando.

No meu caso, o home office não é novidade. Sou ilustrador profissional desde 2018 e, desde então, me conecto com clientes de diversas localidades do Brasil e do mundo, atendendo às necessidades de cada um. Marco reuniões, envio e-mails, emito notas — toda a cadeia produtiva flui de dentro de casa.

À primeira vista, a ideia de home office parece muito boa. Ora, quem não gostaria de trabalhar dentro de casa? É encantador o conceito de fazer os próprios horários, sem precisar obedecer a um dress code formal, sem farda, crachá ou roupa social. Posso atender meus clientes de pijama, enquanto tomo meu café; economizar tempo com deslocamento e gastos com transporte; ter flexibilidade para resolver problemas pessoais sem ter que prestar maiores esclarecimentos — somente a produtividade, limpa e seca. É maravilhoso!

Mas… nem tudo são flores. Existem algumas armadilhas dentro desse conceito sobre as quais pouco se fala. Listo, a seguir, alguns pontos para refletirmos:

A ausência de delimitação do espaço físico de trabalho traz consigo a ideia de que estamos constantemente disponíveis para o trabalho. Sabe aquela frase: “O que custa resolver tal problema? Estou em casa mesmo”? Aquele e-mail que poderia ser enviado no dia seguinte acaba sendo enviado hoje. Não importa se já passamos do horário comercial — “não custa nada”, certo? Assim, acabamos educando nossos parceiros profissionais a acreditarem que estamos disponíveis o tempo todo: fora do expediente, nos finais de semana, feriados… afinal, o trabalho está em casa.

O mesmo se aplica quando as demandas da casa se confundem com as do trabalho. Afinal, o que custa parar um pouco para resolver o problema da torneira que está vazando? Da troca do gás? Da limpeza do banheiro? São questões pessoais que, se estivéssemos dentro de um escritório, seriam inviáveis de resolver durante o expediente.

Despesas. Sim, despesas! Não temos gastos com deslocamento, uniforme etc., mas… sabe aquela cadeira ergonômica do escritório? O computador que precisa de manutenção de hardware e software? O almoço, a energia, o material de papelaria, as impressões… Sim, escritório em casa também é escritório — e tem seus custos de manutenção.

Trabalho solitário. Eu, particularmente, gosto desse ponto (risos!), mas muitos colegas que atuam nesse regime relatam que um dos principais desafios é a falta de socialização. Sair de casa pode parecer um ato simples, mas é carregado de significado para quem aprecia ver pessoas, trocar informações cara a cara, jogar conversa fora na copa da empresa durante o café.

É possível perceber que, apesar de suas muitas vantagens, o home office exige uma dose significativa de autogerenciamento, disciplina e consciência sobre os próprios limites. Trabalhar de casa pode ser libertador, mas também pode se tornar uma armadilha se não soubermos estabelecer fronteiras claras entre o pessoal e o profissional. Cabe a cada um avaliar se essa dinâmica funciona dentro da sua realidade e, principalmente, encontrar um equilíbrio saudável para que o trabalho remoto não comprometa sua qualidade de vida, produtividade e bem-estar.

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