
“Talvez o mundo seja assim. Ele te caça e te mata por ser quem você é.”
A dor do isolamento humano, um dos temas centrais de Frankenstein (2025), é condensada em uma fala pouco depois da metade do longa. A mais recente adaptação da obra de Mary Shelley é o projeto-sonho de mais de 20 anos do diretor Guillermo del Toro, e ganha vida com uma grandiosidade impressionante.
Nesta versão, não há elemento discreto. Desde a cenografia até o figurino e a trilha sonora, tudo é construído com cuidado e escala. Os cenários foram montados e pintados à mão, com tons escuros e saturados que conferem às cenas a atmosfera sombria e melancólica típica do cinema gótico.

O verdadeiro destaque do filme, porém, está no roteiro e nas interpretações. Oscar Isaac deixa sua marca em Victor Frankenstein, cuja juventude privada de afeto dá lugar, na vida adulta, a um ego desmedido. Em um delírio de grandeza, ele defende sua tese com uma energia quase maníaca, para depois desmoronar diante da frustração com sua própria criação.
Mia Goth, como Elizabeth Harlander, oferece à personagem um temperamento crítico e curioso. Seu interesse por biologia e insetos cria uma conexão com Victor, e ela se torna seu foco romântico. Mais do que química amorosa, a dinâmica entre os dois se equilibra pelo contraste entre suas visões: de um lado, obsessão e crueldade; do outro, acolhimento e gentileza.
É sob a perspectiva da Criatura que o filme ganha sua força emocional. Acompanhamos uma vida de privação e dúvidas sobre a própria existência, marcada por respostas escassas e limitações impostas. Jacob Elordi entrega uma fisicalidade impressionante, alternando entre medo e inocência, fúria e revolta. Incapaz de escapar do próprio destino, a Criatura assume o papel monstruoso que lhe foi imposto, buscando apenas um gesto de humanidade de seu criador.
No espírito do existencialismo original de Shelley, a adaptação de del Toro mergulha no dilema do que nos torna humanos, expandindo-o para a relação entre criador e criatura, pai e filho, e a busca por amor e perdão.
Se, na mitologia grega, Prometeu deu o fogo aos homens, o Prometeu moderno cria a máxima expressão de sua ambição e se confronta com a própria vilania. Ver a Criatura caminhar pela neve é encarar um espelho: um caminho solitário em busca de compreensão de si mesmo e do próprio lugar no mundo.

















