A Inteligência Artificial de João da Silva

Texto de Yuri Melo, publicitário, diretor, roteirista e crítico de cinema
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“O medo é válido. Afinal, é natural ao ser humano sentir medo de algo que não compreende. Mais natural ainda é sentir medo de algo mais inteligente que você”/ Foto: Divulgação

Toda nova geração acha que será a última. É um tipo de arrogância cíclica e atemporal. O fim dos tempos vem se repetindo desde que os tempos começaram. Na época de meus avós, foi a segunda Guerra Mundial. De meus pais, a Guerra Fria. Para minha geração, o apocalipse também é cinematográfico – tanto que James Cameron já tinha entendido o conceito há uns 40 anos atrás. 

O que vai acabar com a gente é a tal da Inteligência Artificial. As máquinas vão dominar o mundo. A Skynet venceu. 

É engraçado. Se um leigo lê um artigo genérico sobre IA pensa que a inteligência artificial surgiu com o ChatGPT. Um evento inédito. Histórico. Recente. 

Mentira. Lá nos anos 60, o negócio já existia. Mas o boom recente nos programas movidos através desta tecnologia, de fato, é inegável; e o novo pré-requisito em descrições de cargos no LinkedIn assusta: Experiência com ChatGPT (preferível).

Por enquanto é “preferível”. Mas todos sabem que o “obrigatório” é inevitável.

O medo é válido. Afinal, é natural ao ser humano sentir medo de algo que não compreende. Mais natural ainda é sentir medo de algo mais inteligente que você. O que a maioria se pergunta quando coça a cabeça antes de dormir, prestes a terem pesadelos com CPUs, é o seguinte: “Como a IA pode me lascar?”.

E a resposta é: De diversas formas. Contanto que você insista em ser um inimigo. 

No fim, a maioria dos cargos não vão parar nas mãos da IA, mas sim de quem sabe pegar na sua mão e falar com ela. Importante entender: O choro contra uma tecnologia inabalável e disruptiva é livre e intenso. Essa evolução é inevitável e irreversível. Resistir é pior. Faça amor, não faça guerra.

E de pazes feitas, aprenda. Converse com ela. Descubra no que ela é inteligente e no que ela é burra. Descubra seus limites, seus anseios, seus desejos. Desvende o universo formado por informações coletadas e organizadas milimetricamente para criar (simular?) uma argumentação lógica – e humana. 

Mas não se sinta menor. Jamais. 

Afinal, você está lidando com um programa de computador que, essencialmente, coleta e repete. Que não cria nada de novo. Que só regurgita o que absorve de mentes humanas que, de fato, possuem inteligência. Provavelmente tem gente fazendo o mesmo tipo de regurgitação naquela sua chamada semanal no Google Meets. E olha só: eles ainda têm seus empregos. 

Quer dizer – por enquanto. Afinal, a versão paga do ChatGPT é mais barata que um salário mínimo.

Finalmente, sinto dizer: nossa geração não é especial. O mundo não vai acabar à la James Cameron nos próximos 20 ou 30 anos. Não temos teimosia o suficiente para isso. A guerra cinematográfica entre Homem vs. Máquina não vai vingar; apenas nossa submissão. Essa é garantida.

Mas juntos, persistiremos. E deixemos para a próxima geração o privilégio e o pavor de ser a última. 

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