A Sombra do Meu Pai investiga os vínculos entre pai e filhos em meio ao colapso da democracia

O trabalho foi apresentado na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Compartilhar
O trabalho ainda não tem data de estreia definida no Brasil / Foto: Divulgação

Agraciado com Menção Honrosa do júri da Caméra D’Or no último Festival de Cannes, A Sombra do Meu Pai, de Akinola Davies Jr., acompanha a tensão e a vitalidade de Lagos em um único dia, horas antes de protestos que marcariam a história da Nigéria. Exibido na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e sem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, o filme mergulha na rotina de um pai e seus filhos, revelando uma cidade que é ao mesmo tempo fascinante e ameaçadora.

A história se passa em 1993, quando a Nigéria caminhava para a redemocratização. As eleições presidenciais indicavam a vitória de Moshood Abiola, empresário que prometia pôr fim ao regime militar, mas o general Sani Abacha deu um golpe de Estado, anulou os resultados das urnas, assumiu o poder à força e destruiu as esperanças de mudança da população. É nesse cenário de medo e instabilidade que a narrativa ganha força dramática, pois a tensão entre a expectativa de liberdade e a ameaça do regime guia cada decisão do pai enquanto tenta proteger os filhos.

Consequentemente, Davies Jr., britânico-nigeriano, constrói a trama a partir do olhar das crianças, que exploram Lagos como um território de descobertas, mesmo diante da violência sempre presente. Essa perspectiva infantil contrasta com a postura cautelosa do pai, cuja prioridade é preservar a família diante da imprevisibilidade da cidade. O contraponto entre curiosidade e temor, entre inocência e responsabilidade, cria o ritmo e a emoção da obra.

A estreia de Davies Jr. em longas-metragens sucede uma carreira dedicada a curtas e artes visuais, e seu olhar se destaca na fotografia calorosa, que capta tanto a vivacidade das crianças quanto a tensão da cidade. Do mesmo modo, a trilha sonora, integrada de forma precisa, reforça o peso emocional de cada cena sem sobrecarregar a narrativa, tornando a experiência sensorial tão rica quanto melancolica.

O resultado é um filme sensível e politicamente consciente, que articula memórias pessoais com a história coletiva da Nigéria. A Sombra do Meu Pai evidencia o talento de Davies Jr. e confirma seu potencial de transformar acontecimentos históricos em uma experiência cinematográfica impactante e delicada, capaz de emocionar e provocar reflexão. Vale conferir.

Filme visto na cobertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Acompanhe o Veredas e fique por dentro de tudo!

ASSUNTOS

Publicidade

Mais lidas

Publicidade