Ainda Estou Aqui: Walter Salles explora a memória e afeto na eternização do momento

A obra está concorrendo ao Oscar de Melhor Filme
Dirigido por Walter Salles, o longa disputa a estatueta de Melhor Filme com produções como “Anora”, “O Brutalista”, “Um Completo Desconhecido”, “Conclave”, “Duna: Parte 2”, “Emilia Pérez”, “Nickel Boys” e “A Substância” / Foto: Divulgação

No início da década de 1970, o Brasil enfrentava o endurecimento da ditadura militar. No Rio de Janeiro, a família Paiva – Rubens, Eunice e seus cinco filhos – vivia à beira da praia, em uma casa de portas abertas para os amigos. Um dia, Rubens Paiva (Selton Mello) foi levado por militares à paisana e desapareceu. Eunice Paiva (Fernanda Torres) – cuja busca pela verdade sobre o destino de seu marido se estenderia por décadas – foi obrigada a se reinventar e traçar um novo futuro para si e seus filhos.

Nesse sentido, Ainda Estou Aqui é um filme muito contido, desde as imagens cotidianas até a construção da mise-en-scène e performances. Consequentemente, a dupla de protagonistas, em várias cenas, entregam perfeitamente o que o longa precisa.

Isso ocorre pois eles sabem que a força da produção está no valor dado ao olhar e, ao construir, através das diversas texturas presentes na imagem, um profundo senso de carinho pela construção da memória.

A organicidade da película reflete isso de forma clara. Por isso, acredito que o projeto perde um pouco de sua força nos saltos temporais, onde falta um pouco da textura encantadora dos primeiros atos. No entanto, a verdadeira beleza está na resistência do “não-esquecer”, quando o lembrar se torna uma luta.

A denúncia emerge, então, desse lugar de afetividade, ligado muito mais a esse aspecto do que à batalha política, que também está presente, mas claramente não é o foco principal. Vindo desse lugar de memória e afeto, embora não tenha uma relação direta com a história do filme, lembro-me de minha tia, que faleceu há três anos, e, a cada dia, sinto uma tristeza crescente ao perceber que estou esquecendo cada vez mais de como ela era.

Contudo, toda vez que vejo uma foto dela, não consigo segurar as emoções. Por isso, me senti profundamente tocado quando Eunice, já em um estágio avançado do Alzheimer, se emocionou ao ver a imagem de seu marido na televisão. Sinto que a maior riqueza do longa está nesse momento.

É o poder da imagem: uma reação química em um papel, um feixe de luz projetado na tela de cinema, criando algo novo. É mágico.

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