Chico, Caetano e Gil voltam a marchar juntos em ato político em Copacabana

Cada artista cantou duas ou três músicas
“Já passamos por momentos parecidos, sempre buscando a autonomia cada vez maior do nosso povo. Este é mais um momento em que fazemos essa exigência”, declarou Gil durante o ato / Foto: Reprodução

Chico Buarque de Hollanda e Caetano Veloso caminharam lado a lado pela Cinelândia em 28 de junho de 1968, durante a histórica Passeata dos Cem Mil — a maior mobilização de rua contra a ditadura militar. Gilberto Gil, mais atrás, acompanhava os estudantes e depois se juntou aos colegas. Naquela marcha pelo centro do Rio de Janeiro, categorias profissionais se organizaram em blocos. O grupo dos artistas foi liderado por Paulinho da Viola, empunhando uma faixa com os dizeres: “Músicos querem liberdade de expressão”.

Cinquenta e sete anos depois, em um Brasil atravessado por novas crises, os quatro se reencontraram — desta vez, em Copacabana. Chico, Caetano, Gil e Paulinho foram os grandes nomes da manifestação contra a chamada PEC da Blindagem e contra a urgência na votação do projeto de anistia aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.

“Já passamos por momentos parecidos, sempre buscando a autonomia cada vez maior do nosso povo. Este é mais um momento em que fazemos essa exigência”, declarou Gil durante o ato.

A grande diferença em relação a 1968 é que, agora, eles não estavam mais no chão, entre os manifestantes. Em 2025, conduziram o protesto de cima do palco, enquanto estudantes, artistas e trabalhadores mais jovens ocupavam as ruas e os saudavam de baixo.

O evento teve clima de festival, com apresentações de Ivan Lins, Frejat, Lenine, Geraldo Azevedo, Jorge Vercillo, Maria Gadú, Marina Sena e o conjunto Os Garotin. Em outras capitais, como Salvador, Brasília e Belo Horizonte, artistas como Wagner Moura, Daniela Mercury, Chico César e Fernanda Takai também se manifestaram.

A capacidade desses músicos de dar força a campanhas sociais e políticas atravessa gerações. Em 1985, por exemplo, Chico, Caetano e Gil — este último o principal articulador — lançaram “Nordeste Já”, projeto musical com arrecadação para vítimas da seca na região. Em 1989, Chico, Gil e Djavan — também presente no ato deste domingo — gravaram o jingle “Lula Lá”, que marcou a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.

Em 2016, Caetano e Chico cantaram, em dias diferentes, no Ocupa MinC, protesto contra a extinção do Ministério da Cultura, medida anunciada (e depois revertida) pelo então presidente Michel Temer. Em 2018, durante a prisão de Lula, Chico e Gil cantaram juntos “Cálice”.

No ato deste domingo, 21, os artistas rememoraram esse repertório de resistência. Ivan Lins homenageou o amigo Gonzaguinha. Frejat lembrou Cazuza. Cada músico resgatou canções que marcaram protestos — ou tempos de desalento — em suas épocas. Os mais jovens, por sua vez, escolheram clássicos da MPB com mensagens sociais. Maria Gadú abriu a tarde com “Como Nossos Pais”, Os Garotin cantaram “Olhos Coloridos”, e Marina Sena interpretou “Brasil”.

Caetano Veloso conduziu o ato — sua esposa, Paula Lavigne, foi uma das organizadoras. No palco, ele cantou “Podres Poderes”, “Gente”, “Um Índio” e “Alegria, Alegria”. Depois, dividiu os vocais de “Sina” com Djavan. Gil, por sua vez, entoou “Aquele Abraço”, enquanto Chico subia ao palco. Juntos, encerraram o momento com “Cálice”.

Cada artista cantou duas ou três músicas. Perto da grade, o público pedia faixas específicas. “Canta ‘Oceano’!” e “’Açaí’! ‘Açaí’!” eram os recados para Djavan.

Com o cair da tarde e o público aparentando cansaço, Lenine reacendeu os ânimos com um recado direto: “Temos que reverberar nossa soberania. Nenhum país estrangeiro vai meter o bedelho aqui”, disse, arrancando aplausos. Em seguida, passou o microfone a Frejat, que trouxe novo fôlego ao ato com “Ideologia” e “Pro Dia Nascer Feliz”. Relembrou o Rock in Rio de 1985, a esperança com a posse jamais concretizada de Tancredo Neves e destacou a importância da ocupação das ruas.

“Eles propuseram anistia e essa PEC da Blindagem — a maior cara de pau da história. Mas estamos aqui para dizer não”, afirmou Frejat.

O encerramento veio em clima de catarse coletiva, com todos os artistas reunidos no palco cantando “Odara”, de Caetano, e o samba “É Hoje”, da União da Ilha (1982) — um clássico dos fins de festa brasileiros.

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