“Samba também é reza” em biografia de Beth Carvalho assinada por Rodrigo Faour

O encontro entre biografada e biógrafo se mostra certeiro: Beth, moderna na música; Faour, moderno na escrita
O livro percorre a longa carreira da cantora, sem ignorar aspectos decisivos de sua vida pessoal / Foto: Divulgação

Oficialmente, o modernismo brasileiro nasceu em 13 de fevereiro de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo, com a abertura da Semana de Arte Moderna. Idealizado por Oswald de Andrade, o evento reuniu nomes como Anita Malfatti, Mário de Andrade, Heitor Villa-Lobos, Sérgio Buarque de Holanda, Menotti Del Picchia e outros artistas e intelectuais que marcaram a história cultural do país.

Mas a versão de que a modernidade brasileira teria começado apenas naquele palco paulista é alvo de contestações. Muitos lembram que, sem o apoio das elites de São Paulo — então centro político e econômico do país, em parceria com Minas Gerais —, dificilmente o movimento teria ganhado tamanha projeção. Ruy Castro, por exemplo, recorda as rodas de samba da casa de Tia Ciata, no Rio de Janeiro, para defender que o verdadeiro modernismo nasceu nos morros cariocas, longe do Viaduto do Chá.

Independentemente da leitura histórica, o fato é que o samba consolidou-se como a “reza do brasileiro”, renovando-se a cada geração e ocupando um lugar central na cultura popular. Uma de suas vozes mais emblemáticas, Beth Carvalho, acaba de ganhar uma biografia definitiva: “Beth Carvalho – Uma vida pelo samba”, escrita pelo jornalista e pesquisador musical Rodrigo Faour e publicada pela Sonora Editora.

O livro percorre a longa carreira da cantora, sem ignorar aspectos decisivos de sua vida pessoal. Registra minuciosamente a discografia de Beth e revela curiosidades pouco conhecidas de mais de cinco décadas de trajetória. Entre elas, o início da carreira longe do samba, quando a artista se aproximava da Bossa Nova, e o temperamento forte que a acompanhou até o fim: opiniosa, determinada e nada fácil de lidar — traço que humaniza e complexifica a figura biografada.

Faour é criterioso ao reconstituir não apenas os feitos da artista, mas também os nomes que caminharam ao seu lado: músicos, arranjadores, diretores e parceiros de palco, muitos deles presentes em depoimentos que enriquecem as mais de 440 páginas da obra. O grande eixo narrativo, no entanto, é a participação ativa de Beth na reformulação do samba. Ela não era coadjuvante: sabia tocar violão e piano, e não cedia facilmente às pressões da indústria cultural. Faour a descreve como uma mulher à frente do seu tempo, moderna em sua postura artística e política.

O encontro entre biografada e biógrafo se mostra certeiro: Beth, moderna na música; Faour, moderno na escrita. O resultado é um livro que merece espaço nas estantes e nas cabeceiras de quem deseja compreender não apenas a trajetória de uma cantora, mas a própria história recente da música brasileira.

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