Com Centro Ilusão, Pedro Diógenes confirma seu lugar entre os melhores

O filme, que teve sua pré-estreia em Fortaleza na última semana, ainda não tem data definida para seu lançamento nacional
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Fernando Catatau, cantor e compositor da banda Cidadão Instigado, interpreta Tuca / Foto: Divulgação

Pedro Diógenes é o tipo de diretor que me faz imaginar o que ele seria capaz de criar com um orçamento mais robusto. Com recursos limitados, o cineasta cearense já nos presenteou com diversas narrativas, sempre utilizando Fortaleza como cenário, mas com nuances e elementos que tornam cada história única.

Enquanto A Filha do Palhaço, seu filme mais popular, aborda paternidade e a redescoberta de uma identidade em uma cidade que acolhe de novo, Centro Ilusão, seu trabalho mais maduro, lida com o drama de uma Capital que marginaliza personagens da música e que reage de forma agressiva quando essas figuras se rebelam.

A trama de Centro Ilusão se desenrola em torno de dois músicos, um com 20 anos e o outro com 50, que se conhecem após participarem de uma seleção para um laboratório musical. Enquanto aguardam o resultado, decidem explorar as ruas do centro de Fortaleza. Entre conversas sobre o passado, mágoas, relacionamentos e términos, a narrativa é embalada por uma trilha sonora que ajuda a contar a narrativa, algo que certamente causaria inveja a qualquer diretor ou roteirista apaixonado por musicais.

O filme surpreende não só pela naturalidade dos atores, que beiram o neorrealismo, a ponto de ser difícil distinguir o que é improviso e o que é roteiro, mas também pela montagem que separa com sutileza os atos e o ritmo do tempo, refletindo as horas que passam naquela tarde.

Um exemplo disso é o que ocorre no final do segundo ato, quando os dois estão em um terraço com o pôr do sol ao fundo. Naquela cena, a amargura das palavras de Fernando Catatau, que começa a cogitar abandonar a música, contrapõe-se à iluminação reveladora do protagonista que o escuta. O confronto entre eles não é explícito ou didático; é sutil, elegante o suficiente para que o espectador compreenda o que cada um sente. Enquanto um está depressivo com os “nãos” que recebe, o outro ainda tem fé. Entendemos tudo, felizmente, através da imagem.

Consequentemente, Centro Ilusão também faz uma homenagem singela a vários artistas da música fortalezense e cearense. É um filme sombrio, sem dúvidas, mas com uma esperança silenciosa ao exibir a determinação desses profissionais, independentemente da idade ou geração, não abrindo mão da música que desejam tocar.

Certa vez, Catatau disse para mim que Fortaleza é como uma areia movediça que suga todos para o fundo, o que explica porque tantas pessoas boas querem sair daqui. O curioso é que seu personagem está preso à cidade, e, ao não sair, continua a tentar algo novo. Mesmo diante das quedas, ele não se deixa abater pelo labirinto que é o município. Essa mensagem só é compreendida por quem vive aqui; o sucesso de Centro Ilusão, fora da Capital, prova que Pedro Diógenes tem uma visão única de sua história, capaz de tocar o coração até dos que observam de fora. Não são todos os diretores que conseguem manter uma conexão com o externo abordando uma narrativa tão genuinamente nossa em seus filmes. Mas Pedro foi lá e conseguiu. De novo.

Confira a entrevista com o diretor Pedro Diógenes:

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