
A cineasta colombiano-brasileira Paula Gaitán, com mais de 40 anos de carreira, é a grande protagonista da mostra “As Mil Noites – O Cinema de Paula Gaitán”, em exibição até o dia 23 de março na Caixa Cultural. No domingo, 16, Gaitán realizou sua última participação, promovendo uma troca de ideias com o público. Durante o evento, a diretora ofereceu uma experiência enriquecedora, tanto com a exibição de seus filmes, quanto com os debates, atividade realizada no sábado, 15, também.
Gaitán, atualmente residente em São Paulo, iniciou sua trajetória no cinema em 1987 com o longa Uaka. Desde então, construiu uma filmografia notável, composta por 10 longas-metragens, diversos curtas, séries e instalações. Entre suas obras mais relevantes, estão: Diário de Sintra (2008), Agreste (2010), Exilados do Vulcão (2013), É Rocha e Rio, Negro Léo (2020), Luz nos Trópicos (2020), Ostinato (2022), Se Hace Camino al Andar (2022) e O Canto das Amapolas (2023).
Seu trabalho cinematográfico é marcado por uma constante exploração de territórios diversos, mesclando linguagem cinematográfica com experimentação visual, sonora e narrativa. Em seus filmes, fragmentos literários, imagens de arquivo e performances poderosas se entrelaçam, criando um cinema fluido e instigante, em que as fronteiras entre imagem, som e narrativa são continuamente desafiadas.

Com mediação do diretor cearense Pedro Diogenes, Paula Gaitán, viúva de Glauber Rocha – o ícone do Cinema Novo –, apresentou Diário de Sintra, um exercício de momentos compartilhados com o cineasta e sobre como a sociedade lida com a memória de uma figura tão importante, décadas após sua morte.
Ao ser questionada sobre a classificação de seu filme como “experimental”, Paula se mostrou enfática: “Entenda, essa definição é uma forma muito grosseira de rotular um trabalho. Todo filme é uma experiência. Só porque ele foge do convencional, ele se torna experimental? Isso não existe. Essa definição empobrece a gramática do cinema. Meu filme não é experimental. A arte em si é que é”, afirmou ao Veredas.
Sobre o material utilizado em Diário de Sintra, Paula revelou que não havia mais nada para uma sequência: “Tudo o que eu tinha de Glauber, eu usei. Mas muitos outros diretores também fizeram filmes sobre ele, inclusive meu filho, Eryk Rocha”, destacou. O longa utiliza imagens de Super 8, película e vídeo, criando uma colagem única de diferentes tempos.
Explicando sua visão sobre as demarcações entre ficção e documentário, Paula afirmou: “Todo documentário é ficção. Minha história é um recorte de um momento da minha vida e o que eu quis contar anos após a partida de Glauber. Fiz uma curadoria do que considerei relevante, na ordem cronológica que construí. Portanto, apesar de ter sido um fato real, é ficção, pois montei a narrativa da maneira que achei melhor, não do jeito que as pessoas esperavam”, refletiu.
A Mostra de Paula Gaitán
Entre os destaques da mostra As Mil Noites – O Cinema de Paula Gaitán, estão Uaka (1988), o primeiro longa da cineasta, filmado na aldeia Kamayurá, no Alto Xingu; Exilados do Vulcão (2013), premiado no Festival de Brasília; o épico Luz nos Trópicos (2020), exibido no Festival de Berlim e premiado no Olhar de Cinema; O Canto das Amapolas (2023), vencedor do prêmio Carlos Reichenbach de Melhor Filme no Festival de Tiradentes; e seu mais recente trabalho, História das Imagens Aleatórias (2025).
O público também poderá assistir a filmes em que Paula Gaitán documenta encontros com grandes nomes da arte e da cultura, como Lygia Pape, Agnès Varda, Arrigo Barnabé, Jean-Claude Bernardet, Negro Léo, Maria Gladys, Eliane Radigue, além de videoclipes dirigidos para Elza Soares e Ana Frango Elétrico.
Após sua temporada em Fortaleza, a mostra seguirá para a Caixa Cultural Rio de Janeiro, de 6 a 16 de março de 2025.