
Antes da sessão, foi exibido um vídeo com o diretor Michael Gracey e o protagonista Robbie Williams, que também é o foco de Better Man. No vídeo, ambos explicaram como surgiu o conceito do filme, com o diretor destacando sua intenção de fugir do formato tradicional das cinebiografias.
Para atingir esse objetivo, ele usou a tecnologia, empregando um macaco digital para representar o personagem principal. No entanto, apesar da proposta inovadora, o filme acaba caindo nas armadilhas e previsibilidades típicas desse tipo de obra.
O filme é estruturado como um musical, com a trama focada na vida do famoso cantor britânico Robbie Williams. A obra promete narrar a história da ascensão, queda e ressurreição inesperada do artista, hoje consagrado como um dos maiores vendedores de discos do Reino Unido. Através de um novo olhar sobre os altos e baixos da fama, inspirado na vida de Williams e na sua própria percepção de si mesmo, o filme acompanha sua trajetória desde a infância até sua icônica apresentação no Albert Hall em 2001.

Apesar do cuidado impressionante com o personagem principal, especialmente em suas expressões faciais, e do esforço para torná-lo cativante, com diversos detalhes na performance do símio digital (interpretado em motion capture pelo próprio Robbie Williams), o filme peca na narrativa.
Os clichês das cinebiografias musicais, até mesmo parodiados em Walk Hard: The Dewey Cox Story (2007), dirigido por Jake Kasdan, estão todos presentes. Em certo momento, chega a ser cômico perceber o quão precisa era a paródia, o que acaba tornando a experiência da história em si bastante superficial.
Respeito muito o uso da tecnologia e a paixão evidente no projeto, mas tenho a impressão de que Gracey não confia plenamente na própria narrativa e tenta compensar com a computação gráfica.
Isso é frustrante, pois o diretor demonstra um grande talento e habilidade para criar cenas de ação impactantes, com multidões de dançarinos, filmadas de forma dinâmica e criativa. Até nas cenas mais íntimas, como a do casal dançando em um ambiente gerado por computação gráfica, ele consegue criar momentos visualmente deslumbrantes e emocionantes.
Nesse aspecto, o diretor demonstra uma evolução em relação ao seu trabalho anterior, O Rei do Show, onde as cenas musicais foram um tanto decepcionantes. Gracey utiliza diversos recursos, como uma narração dinâmica, quebras da quarta parede e uma montagem acelerada, para desviar a atenção da simplicidade da trama. No entanto, essa falta de confiança na narrativa acaba prejudicando a imersão do espectador na jornada dos personagens.
Histórias simples não são, por si só, um problema. Um bom exemplo disso são os filmes Avatar, de James Cameron, que apresentam enredos diretos. Contudo, Cameron sabe que isso é suficiente para criar um grande filme. Ele não tem receio de explorar as complexidades dessas histórias, confiando no poder dramático dos arquétipos clássicos, que, embora possam parecer “batidos”, ainda têm um grande impacto. Nesse sentido, a tecnologia não é a justificativa para o filme, mas sim uma ferramenta que o potencializa.
Infelizmente, parece que Gracey e Williams, ao tentarem se distanciar demais do convencional, não conseguem aproveitar o poder do clássico e, mais do que isso, hesitam em desafiar o gênero de forma mais ousada, como haviam prometido no início.