Mickey 17 é divertido, mas exaustivamente superficial

Boas ideias que não levam a lugar nenhum
Compartilhar
Mickey 17 é o primeiro filme de Bong Joon-Ho após Parasita / Foto: Divulgação

Bong Joon-ho é um ótimo diretor. Já decepcionou algumas vezes, mas agradou mais do que isso. Depois de Parasita, um dos melhores filmes dos últimos anos, no entanto, a régua estava alta, como dificilmente esteve para outros diretores contemporâneos.

Em Mickey 17, seu mais recente trabalho, o cineasta sul-coreano aproveita toda a fama que conquistou e os recursos financeiros da Warner Brothers para fazer uma sátira sociopolítica dos Estados Unidos. O problema é que ele se diverte tanto com a brincadeira que acaba ficando isolado nela, deixando o público como mero espectador da superficialidade do roteiro.

No filme, que é melhor assistir sem muitos spoilers, seguimos o personagem de Robert Pattinson, preso em uma rotina espacial. Ele é repetidamente sacrificado pelos cientistas da nave para, em seguida, ser “reimpresso”. A partir de suas mortes, a tripulação aprende a sobreviver.

As críticas ao capitalismo, aos colonizadores, aos maus-tratos aos animais, à exploração dos trabalhadores e à escravidão são excessivamente evidentes, não apenas nas imagens, mas também no texto, que se torna redundante ao expor de forma explícita os pensamentos e ações dos personagens. O filme propõe soluções ilógicas para os absurdos e, ao não confiar na inteligência do público, detalha sua própria falta de senso.

Para piorar, de nada vale a inclusão de referências ao cinema político se estas não são adequadamente inseridas em um contexto mais profundo. É interessante, por exemplo, observar momentos como aquele em que o vilão, inspirado em Donald Trump, se prepara para enfrentar uns alienígenas, sendo filmado de baixo para cima, numa clara alusão às imagens nazistas da Segunda Guerra Mundial. Esse exemplo, assim como tantos outros, tem grande potencial, mas a ideia, que poderia ser verdadeiramente deslumbrante, acaba sendo subaproveitada logo depois. São comentários vazios demais.

Por fim, Mickey 17 não chega a ser moralista ou pedante como outros filmes que exploram diversos temas da América. É uma pena que, apesar de ser tão divertido, bem atuado e apresentar ideias e cenas tão boas, elas se percam minutos depois. Ele tenta abordar tantas questões, que, no fim, acaba não dizendo nada.

Acompanhe o Veredas nas redes sociais e fique por dentro de tudo!

ASSUNTOS

Publicidade

Mais lidas

Publicidade