Antonio Bandeira – O Poeta das Cores é cinema em tom pastel

Documentário de Joe Pimentel cumpre seu papel, mas sem ousadia
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Antonio Bandeira – O Poeta das Cores, embora cuidadoso e bem articulado em seus depoimentos, opta por um formato bastante convencional / Foto: Reprodução

Joe Pimentel foi meu professor de cinema na Casa Amarela Eusélio Oliveira, no Benfica — bairro que abriga a Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza. Suas aulas iam além do óbvio: tinham prática, escuta ativa, apresentações de roteiro e decupagem diante da turma, além de um fiel acompanhante de quatro patas, seu cachorro, que circulava por ali como parte do ambiente. Só quem viveu, sabe.

Joe envolvia os alunos, estimulava a criatividade, respeitava os diferentes pontos de vista. Foi um mestre que ensinava cinema com o corpo todo — movido por uma generosidade rara e um senso de humor que contagiava.

E justamente por conhecer esse educador tão plural e inventivo que, ao assistir Antonio Bandeira – O Poeta das Cores, seu mais recente documentário, senti um certo distanciamento com as minhas memórias. O filme, embora cuidadoso e bem articulado em seus depoimentos, opta por um formato bastante convencional. Não que isso o diminua — sejamos justos —, mas há algo de protocolar, quase publicitário, que limita o voo imaginativo que se esperaria de um retrato sobre um dos artistas plásticos mais originais que este país já teve.

Antonio Bandeira era pura invenção: das cores ao riso, das andanças pelo mundo às batalhas contra o marasmo. O filme reconhece isso e sustenta com elegância a força do personagem, graças a uma curadoria de falas precisa. Artistas, críticos e familiares — como o sobrinho e também pintor Francisco Bandeira, que assume a narração com afeto — constroem um mosaico respeitoso e envolvente. Infelizmente, é tão bonito que fica redundante.

Sem tentar ser mais “artístico” do que seu objeto, o documentário entrega uma homenagem com ritmo e bom gosto. Ainda assim, para quem conheceu o diretor nas salas de aula da UFC, talvez fique um desejo de algo mais ousado, mais livre, mais vibrante. Porque, por mais bonito que seja o filme, ele parece esquecer a centelha de surpresa e provocação que o cinema, como as tintas de Bandeira, pode e deve carregar. Faltou ser mais malandro, como o Joe Pimentel sempre foi.

Confira o trailer

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