
Nosferatu jamais pediu licença para atravessar gerações. Ele simplesmente se infiltra — ora como sombra furtiva, ora como vulto disforme — e se impõe diante das lentes de quem ousa capturá-lo. Permanece ali, imóvel e inabalável, mesmo depois que o projetor silencia.
Se o cinema nasceu para aprisionar o instante e preservá-lo vivo, o vampiro já dominava essa arte muito antes do primeiro fotograma, pois sobrevive justamente do tempo e da energia alheios. Talvez, por isso, todo cineasta seja um vampiro — e todo cinéfilo, também. Passamos horas a sugar imagens concebidas por outros, como se cada enquadramento nos insuflasse novo fôlego para suportar a realidade.
Nosferatu, em particular, já vestiu formas muito distintas. Em 1922, F. W. Murnau fez de Max Schreck um espectro do expressionismo alemão, inventando um cinema que ainda tateava sua própria linguagem. Mais de meio século depois, Werner Herzog moldou Klaus Kinski como uma força da natureza — inevitável, enigmática, quase primordial. E, em 2000, E. Elias Merhige decidiu brincar com a velha lenda de que Schreck não interpretava: ele simplesmente era. Willem Dafoe, com um sorriso suspenso entre a farsa e o abismo, encarnou esse mito com uma estranheza deliciosa.

Bill Skarsgård, guiado por Robert Eggers, viria depois. Mas sua versão, privada de qualquer charme mórbido, é puro desconforto — um Nosferatu que não quer seduzir, apenas repelir.
Depois de tantas encarnações, talvez resida aí o verdadeiro encanto: o vampiro do cinema nunca é o mesmo. Às vezes é metáfora da própria criação artística; outras vezes, lembrança implacável de que tudo o que registramos sobreviverá a nós — como uma mordida eternizada no tempo.
É nesse espírito que, a partir desta semana, toda sexta-feira abrirei as portas para um passeio pelos recantos mais sombrios da sétima arte. Serão encontros com filmes, cineastas, lendas e monstros que, de formas distintas, ajudaram a moldar o imaginário do horror. Um mergulho para compreender como essas figuras — dos aristocratas de capa negra aos assassinos mascarados — continuam a nos assombrar, reinventando-se e, claro, sugando nossa atenção, década após década.
Meus estudos atuais — que servirão de base para a produção de um livro e, possivelmente, para uma futura dissertação de mestrado — têm como tema central o vampirismo. Quanto mais me aprofundo nesse universo, mais ele me fascina. A cada nova descoberta, trarei para cá conteúdos que unam reflexões, curiosidades, referências e conexões históricas, literárias e cinematográficas.
Assim, este espaço funcionará também como um diário de bordo dessa investigação. Um convite para que me acompanhem na exploração dessas criaturas que atravessam séculos, reinventando-se sem jamais perder a capacidade de nos assombrar — e, de algum modo, de nos seduzir.
Preparados? Então, até sexta-feira.