Feliz Natal: companheirismo em tempos de guerra

A história se passa na noite de Natal de 1914, quando soldados escoceses, franceses e alemães decidem fazer uma trégua e celebrar juntos em meio à guerra
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O filme foi exibido na 17ª edição do Festival Lumière / Foto: Clara Ximenes

Vinte anos após seu lançamento, Feliz Natal (2005), de Christian Carion, foi reprisado durante a semana do 17º Festival Lumière, com a presença do próprio diretor e de Dany Boon, um dos maiores astros da comédia francesa, que interpreta o personagem mais memorável do filme.

Uma das curiosidades relatadas pelo diretor foi a dificuldade em encontrar apoio para realizar a obra, que retrata uma história real, pouco conhecida e, por anos, ocultada pelos governos dos países envolvidos.

Inicialmente, após o Exército francês proibir as filmagens em um campo militar, a equipe precisou realizar as gravações na Romênia. Apenas depois do lançamento, seguido de grande sucesso e aclamação internacional, incluindo uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional, o governo francês passou a abraçar a produção.

A trama se passa em uma noite de Natal de 1914, no início da Primeira Guerra Mundial, quando soldados escoceses, franceses e alemães decidem fazer uma trégua e celebrar juntos essa data simbólica em meio à violência e ao ódio.

Alternando entre inglês, francês e alemão, a narrativa acompanha diversos personagens de ambos os lados das trincheiras e logo o espectador percebe que não há vilões nem heróis, apenas homens comuns, convocados sem entender por que estão matando aqueles do outro lado. O verdadeiro vilão aqui é a própria guerra, conduzida por homens de alto escalão que jamais pisam nos campos de batalha. Essa diferença se torna ainda mais gritante quando vemos generais desfrutando de banquetes enquanto os soldados sofrem com o frio e a escassez de comida.

O momento de companheirismo e paz surge quando um soldado alemão começa a cantar Noite Feliz, sendo acompanhado por um escocês ao som da gaita de fole, um gesto que simboliza o poder de união proporcionado pela arte.

Mesmo sem um único protagonista, o roteiro consegue transitar entre os vários personagens sem superficialidade, criando conexões humanas e emocionais entre eles. O filme desenvolve bem cada figura, seja o casal de cantores de ópera, interpretado por Benno Fürmann e Diane Kruger, que busca uma forma de permanecer junto; o padre escocês (Gary Lewis), que tenta manter a fé como consolo para os soldados; ou o adorável Ponchel (Dany Boon), que traz leveza e humor, arrancando sorrisos em meio a um cenário tão frio e mortal.

Feliz Natal é um daqueles filmes com uma história tão extraordinária que, à primeira vista, parece fruto da ficção. É justamente por isso que o cinema se torna essencial, para eternizar acontecimentos reais que nos lembram que ainda há esperança e humanidade em um mundo muitas vezes cruel e indiferente com seus semelhantes. Independentemente do lado da fronteira em que alguém nasceu, da língua que fala ou de suas experiências, ninguém merece passar pelo horror da guerra.

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