Entre doçura e destruição: a inocência perdida de O Bolo do Presidente

O trabalho foi exibido na primeira semana da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
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O longa ainda não tem data de estreia definida no Brasil / Foto: Divulgação

O Bolo do Presidente, filme iraquiano de 2025 dirigido por Hasan Hadi, acompanha uma menina de nove anos que precisa preparar um bolo para o aniversário de Saddam Hussein em meio à guerra e à escassez.

A obra estreou em Cannes, onde conquistou o Prêmio do Público e a Caméra d’Or, e foi o grande vencedor da 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

O sucesso do filme se apoia, em grande parte, no carisma da protagonista, Baneen Ahmed Nayyefa, que, acompanhada de seu galo, atravessa uma cidade devastada em busca dos ingredientes.

Essa travessia transforma-se em uma jornada que revela tanto a vulnerabilidade quanto a coragem da personagem, tornando seu percurso emocionante e envolvente.

A fotografia, clara e quente, estabelece um contraste marcante com a destruição ao redor, enquanto os diálogos da menina reforçam a urgência e a tensão da situação.

A montagem, por sua vez, é precisa e cuidadosa, explorando os ambientes sem cair na repetição ou no artificial, e conferindo à narrativa um tom quase documental que dialoga perfeitamente com a intensidade emocional da protagonista.

O filme oferece um olhar sensível sobre a guerra: o medo de avançar em meio ao caos contrapõe-se à coragem que sustenta a narrativa. Nesse sentido, Hadi parece contrariar a famosa frase de François Truffaut de que não existe filme anti-guerra.

Ao mostrar os efeitos do conflito sem recorrer à violência explícita, a obra provoca reflexão sobre destruição, resiliência e a força da inocência humana.

No fim, O Bolo do Presidente transforma a tarefa aparentemente simples de fazer um bolo em uma metáfora potente sobre sobrevivência, coragem e inocência em tempos de guerra.

É um filme competente, maduro e notavelmente original, que equilibra delicadeza e intensidade sem perder o olhar crítico sobre o mundo que retrata.

Filme visto na cobertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

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