
O que você daria em troca para poder viver o auge da sua beleza o tempo inteiro? Em ‘A Morte lhe Cai Bem’ (Death Becomes Her, 1992), o preço é a própria vida. O filme narra a rivalidade – maquiada como amizade – entre duas colegas de infância: Madeline, interpretada por Meryl Streep, e Helen, vivida por Goldie Hawn. Tentando superar uma à outra, a dupla acaba bebendo um mesmo elixir que não só rejuvenesce o corpo, como também garante a imortalidade. E nenhuma das duas estava preparada para lidar com as consequências.
Dirigida por Robert Zemeckis, a obra mistura terror, comédia e fantasia de um jeito que poucas fizeram nos anos 1990. Não é por menos que o filme se consolidou como um clássico cult e chegou a levar o Oscar de Melhores Efeitos Visuais. Vale lembrar que o diretor é mais conhecido por seu trabalho em ‘De Volta Para o Futuro’ (1985) e ‘Forrest Gump: O Contador de Histórias’ (1994).
Aqui, o protagonismo inicial é de Helen, uma escritora introvertida e profundamente insegura. Ela apresenta seu noivo – interpretado brilhantemente por Bruce Willis – à Madeline como uma espécie de teste, e explica em suas próprias palavras: “Ela sempre conquistava os meus namorados e terminava com eles depois. Preciso ter certeza de que isso não vai acontecer com você”. E é claro que a história se repete.

Após um salto temporal, passamos a acompanhar Madeline, agora mais velha e tendo que conviver com suas escolhas do passado. Em um papel atípico para sua carreira até então, Meryl Streep rouba a cena ao retratar perfeitamente a obsessão e a frustração de uma atriz decadente de meia-idade que não suporta ver a juventude escapar diante do espelho. Ela faria qualquer coisa para viver seu ápice de novo, e é isso que a faz entrar em uma mansão sombria nas profundezas de Beverly Hills, e aceitar uma oferta tentadora.
Embora ambas sejam retratadas como vilãs, as protagonistas hiperfemininas ganham a simpatia do espectador com facilidade, manejando o lado cômico com maestria. São mulheres que descobrem, em momentos distintos, que seu valor para o mundo não existe sem a beleza física e, por isso, recorrem a sacrifícios para recuperar ou conquistar a relevância – em vida ou na morte. O filme enfatiza a pressão estética imposta sobre mulheres de um jeito mais excêntrico e menos visceral do que o observado em ‘A Substância’ (2024), mais de 30 anos depois.
Mais uma vez, Alan Silvestri (que já foi mencionado na coluna sobre ‘Van Helsing: O Caçador de Monstros’) deixa sua marca na trilha sonora com instrumentais tão pitorescos quanto os personagens, ampliando qualquer que seja o sentimento em cena e tornando os créditos iniciais tão memoráveis quanto podem ser.
‘A Morte lhe Cai Bem’ é uma fantasia divertida, surpreendente e dolorosamente atual que, mesmo décadas depois, permanece como um perfeito exemplar do que o terror pode alcançar quando se mistura ao teatral e ao dramático, sem se levar tanto a sério no processo. E ainda que as anti-heroínas terminem em um pesadelo, para a memória cult, serão eternamente imortais.