Animação cearense estreia em competitiva de festival internacional

Dirigido por Letícia Simões e produzido por Maurício Macêdo, “Glória & Liberdade” integra a mostra do Olhar de Cinema — Festival Internacional de Curitiba
O filme segue sem data de lançamento nos cinemas brasileiros / Foto: Divulgação

E se as revoltas separatistas do período regencial tivessem vencido? Como seria a história do Brasil? Que tipo de território poderia emergir de ideais de liberdade indígena, negra e popular? Essas são as questões que impulsionam Glória & Liberdade, longa-metragem de animação que estreia em junho na mostra competitiva brasileira de longas do Olhar de Cinema — Festival Internacional de Curitiba, um dos mais prestigiados eventos do audiovisual no país.

Única produção cearense e também a única animação entre os concorrentes, o filme é dirigido por Letícia Simões, baiana radicada em Pernambuco e roteirista das séries Cangaço Novo (Prime Video) e Maria Bonita e o Cangaço (Disney+). A produção é assinada por Maurício Macêdo, cearense responsável pela série Meninas do Benfica (Globoplay) e pelos longas Motel Destino (Karim Aïnouz, 2024) e Greta (Armando Praça, 2019).

Glória & Liberdade marca ainda um feito inédito: é a primeira animação a integrar a mostra competitiva de longas do festival. Com força política e apuro estético, o filme constrói uma poderosa fabulação histórica, imaginando um Brasil de 2050 moldado pelas revoltas populares do século XIX, como a Cabanagem, Balaiada, Praieira e Sabinada.

Na trama, o Brasil já não existe. Após a partida de D. Pedro I, os territórios das regiões Norte e Nordeste se fragmentaram, dando origem ao continente Pau-Brasil. A narrativa acompanha Azul, jovem documentarista da República da Bahia, que percorre quatro nações independentes. Sua missão: entender por que o antigo país se desintegrou e questionar se existe ainda o desejo de reconstruí-lo. Azul é dublada por Larissa Goés, atriz conhecida por papéis em Cine Holliúdy (Globo, 2023), Meninas do Benfica (Globoplay, 2022), Fortaleza Hotel (2022) e Cabeça de Nêgo (2020).

A jornada de Azul é dividida em quatro capítulos, cada um com identidade estética própria, refletindo as culturas e memórias das nações que visita: Taua Sikusaua Kato, nação indígena com mais de 130 etnias na Amazônia; República de Caxias, formada a partir das antigas províncias do Ceará, Maranhão e Piauí; Reino Unido de Pernambuco, surgido da antiga província de Pernambuco; e República da Bahia, onde vive e onde a narrativa se encerra. Ao longo da travessia, Azul encontra pajés, hackers, lideranças populares e historiadores, que a ajudam a reconstruir a memória de um passado fragmentado. Mas a maior revolução acontece mais perto do que imagina: uma nova insurreição se desenha em sua própria casa, exigindo dela uma reflexão profunda sobre o que aprendeu sobre liberdade e transformação.

“A ideia nasceu de um assombro”, conta Letícia Simões. “E se as revoltas regenciais tivessem dado certo? O filme é uma fabulação crítica — uma tentativa de imaginar o que poderia ter sido e, talvez, o que ainda pode ser.”

Simões também assina o roteiro do longa, que tem direção de animação de Esaú Pereira e Telmo Carvalho, montagem e co-roteiro de Pablo Nóbrega, e trilha sonora original de Pedro Madeira.

Misturando ficção científica, linguagem documental e referências à cultura popular do Norte e Nordeste do Brasil, Glória & Liberdade rompe as barreiras do tempo e do espaço para provocar: o que é uma nação? O que nos une e o que nos separa? A estética experimental da animação dá potência a esse mergulho sensível e radical em um Brasil que nunca existiu — mas que poderia ter existido. Ou talvez ainda possa.

Acompanhe o Veredas nas redes sociais e fique por dentro de tudo!

ASSUNTOS

Publicidade

Mais lidas

Publicidade