Com a cafonice como norte, Um Corpo que Cai, por Kim Novak é uma memória desperdiçada

Exibido na tela grande, o trabalho de Alexandre O. Philippe lembra um telefilme, no sentido mais amador da palavra
Compartilhar
O filme ainda não tem data de estreia / Foto: Paramout

Diferentemente do recente documentário sobre Martin Scorsese, disponível na Apple TV+, o filme sobre Kim Novak e sua carreira, com foco especial em Vertigo, de Alfred Hitchcock, parece não ter seguido um roteiro definido. A atriz se permite divagar sobre suas memórias, enquanto a responsabilidade de organizar uma narrativa cronológica e coerente fica inteiramente nas mãos da equipe de montagem, que claramente enfrentou dificuldades para equilibrar o material em uma história consistente.

Os depoimentos, sem dúvida, são valiosos. Novak fala com sinceridade sobre sua relação com o cinema, seus trabalhos paralelos a Vertigo e o envolvimento na construção de um dos filmes mais importantes da história. A produção se mostra competente ao intercalar essas memórias com imagens de arquivo e cenas do próprio filme, transportando o espectador para um período em que o cinema ainda carregava esperança, cores e entusiasmo.

O problema surge quando o texto emocionado da atriz entra em conflito com a abordagem visual do diretor. Planos desconexos, escolhas estéticas estranhas e a falta de ritmo prejudicam a experiência, deixando o filme simples demais diante de uma história que merecia profundidade e cuidado. A montagem teve que lidar com excessos de planos e contra-planos, tentando compensar a ausência de uma narrativa mais estruturada, mas sem sucesso completo.

No fim, o resultado é um relato simples, quase amador, para uma trajetória suficientemente rica para inspirar algo grandioso, como o já citado documentário de cinco horas sobre Scorsese. O filme sobre Kim Novak não chega a ser um desperdício total, mas infelizmente falha em fazer justiça à importância da atriz e de seu trabalho em Vertigo. Novak se emociona, revive memórias há muito guardadas, e sua melancolia transparece. No entanto, a sensação de que o projeto foi mais uma tentativa de conquistar prêmios internacionais do que uma homenagem genuína é evidente, e isso acaba soando ofensivo para qualquer fã do clássico de Hitchcock.

Filme visto na cobertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Acompanhe o Veredas e fique por dentro de tudo!

ASSUNTOS

Publicidade

Mais lidas

Publicidade