
Lançado originalmente em 1999, Magnólia começa com um longo prólogo em que o diretor explora o tema das coincidências, preparando o terreno para uma narrativa entrelaçada que conecta diferentes histórias a partir de um acontecimento marcante. Mais uma vez, Paul Thomas Anderson presta tributo a Robert Altman — agora de forma ainda mais explícita — ao estabelecer um diálogo direto com Short Cuts (1993). Curiosamente, Julianne Moore, que já havia colaborado com o cineasta em seu filme anterior, também integra o elenco desta obra.
A abertura com a música One, de Aimee Mann — cuja letra fala sobre a solidão do número um — sugere uma conexão metafísica entre as personagens. Afinal, nada é mais humano do que o medo de estar sozinho.
A narrativa se desenvolve em Los Angeles, nos arredores da rua Magnólia, acompanhando um dia na vida de nove personagens que habitam a mesma região e cujas trajetórias se cruzam por obra do acaso.

Em entrevista a Marc Maron, Anderson revelou que o impulso para escrever o roteiro foi a morte de seu pai, Ernest Earle Anderson, e o abalo emocional causado por essa perda. Uma das histórias do filme carrega diretamente a melancolia desse luto.
Por ser o mais grandiloquente de seus trabalhos, Magnólia abrange ainda mais temas do que seu antecessor: família, fama, masculinidade, pressão e conflitos parentais. Anderson recorre a uma estrutura quase novelesca para dar conta da intensidade dramática das personagens. Ao longo de quase três horas, constrói um universo denso, desenvolvendo subjetividades individuais que, aos poucos, se entrelaçam.
O ano de 1999 foi um marco para o cinema, marcado pela virada do milênio e por um imaginário apocalíptico que rondava os Estados Unidos. Nesse contexto, é interessante observar obras contemporâneas a Magnólia: The Matrix, que trouxe uma distopia sci-fi em que a humanidade havia acabado; Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma, com seu subtexto político; e De Olhos Bem Fechados, filme póstumo de Stanley Kubrick.
Assim, Magnólia pode ser lido como uma reflexão sobre a subjetividade diante de um horizonte apocalíptico. O resultado é quase uma ópera cinematográfica, em que a ressonância emocional das personagens culmina em um dos momentos musicais mais belos do cinema recente.
No fim, Magnólia revela como nossas dores e dramas internos podem se conectar por meio da arte. Em uma leitura metafísica, Anderson sugere que as energias que emergem após um trauma nos unem — da mesma forma que ele, inspirado pela perda do pai, transforma sua dor em cinema capaz de espelhar nossas próprias melancolias. O filme mostra que nossa união importa: um e dois podem ser números solitários, mas a grande coincidência da vida é justamente aquilo que nos conecta em nossa dimensão mais íntima.