
No mundo hiperconectado de hoje, a empatia vive um momento instável. Redes sociais diluíram os limites entre o íntimo e o coletivo, criando novas formas de vínculo — nem sempre profundas. Millennials e a geração Z tentam se adaptar a essa nova lógica emocional, e não surpreende que produtos audiovisuais estejam refletindo essas transformações com intensidade e sensibilidade.
Entre essas obras, The Worst Person in the World, de Joachim Trier, traduz as angústias da crise dos 30 anos, enquanto A Nova Vida de Toby oferece um retrato multifacetado da meia-idade, através da escrita de uma narradora observadora.
A minissérie, criada por Taffy Brodesser-Akner, acompanha Toby Fleishman, um médico de 40 anos, recém divorciado, que mergulha nos aplicativos de namoro. Quando sua ex-esposa desaparece sem aviso, ele assume sozinho os filhos, enquanto tenta manter a rotina e entender o colapso de seu casamento. O que parece um drama pessoal se transforma em uma narrativa mais ampla sobre memória, culpa e amadurecimento.

A série se destaca por sua estrutura não linear, inspirada na teoria do Universo em Bloco — que propõe que passado, presente e futuro coexistem. Assim, os episódios apresentam versões fragmentadas dos eventos, onde cada ponto de vista reconfigura a história.
Libby, vivida por Lizzy Caplan, ganha protagonismo ao refletir sobre sua própria invisibilidade e sobre o desafio de construir uma narrativa coerente em meio ao caos cotidiano. A narração em tom jornalístico e os cortes que quebram a quarta parede reforçam essa busca por sentido em um mundo saturado de vozes e versões.
A Nova Vida de Toby também discute a misoginia presente nas relações sociais e afetivas, revelando como mulheres — inclusive a narradora — podem se desviar de padrões opressores sem necessariamente escapar deles.
No fim, a própria experiência de contar a história vira parte da cura. Consequentemente, a série não oferece respostas fáceis. Em vez disso, abraça o desconforto e o inacabado como parte do processo de compreensão. Como na teoria que inspira sua estrutura, tudo está entrelaçado — e é nesse entrelaçamento que a empatia se revela.