
Oeste Outra Vez, de Érico Rassi, mergulha de forma intensa e sensível na complexa temática de homens que expressam afeto por meio da violência. Longe do estilo clássico dos faroestes de John Ford ou Clint Eastwood, o filme se aproxima de uma releitura contemporânea do gênero, evocando o espírito cru e inquieto de obras como Pelos Caminhos do Inferno — um marco do cinema australiano dos anos 1970 e símbolo do movimento Ozploitation.
A ligação com o trabalho dirigido por Ted Kotcheff, falecido esse ano, se revela ao longo da trama, que convida à reflexão sobre uma cidade onde o amor parece ter sido banido. A comparação ganha força especialmente na presença constante do álcool — um elemento tão cotidiano que aparece até no café da manhã. A bebida domina os espaços de uma casa sem fogão, espelho ou cama, mas repleta de cachaça. Sem a presença feminina, eles bebem.
A ausência da mulher — e a raiva que emerge desse vazio — nos faz imaginar quem ela seria. Mas, ao contrário dos homens que tentam eternizar seus feitos em gestos agressivos e planos fechados, ela se esquiva da imagem. É nesse contraste que Érico Rassi se revela um diretor preciso, ao expor protagonistas que só conseguem expressar sentimentos profundos através da violência e do álcool.

Oeste Outra Vez é um filme direto, com uma mensagem firme que atravessa toda a narrativa. À medida que a trama avança, o subtexto ganha corpo, tornando a obra mais poderosa e sutil. A entrada de personagens secundários, também marcados pela falta ou pelo excesso de sentimentos — como eles mesmos reconhecem — exemplifica de forma rara como a repetição pode ser usada com inteligência. Longe de soar cansativa, cada retomada acrescenta novas camadas, enriquecendo e aprofundando a história.
Em suma, Oeste Outra Vez se revela como uma das obras mais competentes de 2025, difícil de ser superada no que tange à sua abordagem e execução. Resta agora aguardar para ver se este impressionante trabalho será reconhecido pelo público de maneira proporcional ao seu valor artístico.