Érico Rassi mostra os caminhos do inferno em Oeste Outra Vez

Filme brinca de ser faroeste, mas é muito mais do que isso
Compartilhar
Filme brasileiro de Érico Rassi luta para continuar em cartaz nas próximas semanas / Foto: Reprodução

Oeste Outra Vez, de Érico Rassi, aborda de maneira intensa e complexa a temática dos homens que expressam amor por meio da violência. Distante do faroeste tradicional no estilo de John Ford ou Clint Eastwood, a obra se aproxima mais de uma releitura moderna, evocada pelo espírito de outro formato de clássico, como Pelos Caminhos do Inferno, um marco do cinema australiano dos anos 1970 e parte do movimento Ozploitation.

No drama brasileiro, o filme apresenta uma jornada rumo ao oeste, explorando paisagens áridas que, embora pertencentes a um país de grande diversidade climática e vegetal, são aqui retratadas de forma austera e sem a idealização característica dos cartões postais.

A ironia se faz presente ao longo da narrativa, que propõe uma reflexão profunda sobre a vida de uma cidade marcada pela ausência de amor. A comparação com o filme australiano é pertinente, especialmente ao observarmos o álcool, que permeia o cotidiano dos personagens de forma constante — até mesmo no café da manhã, enquanto itens alcoólicos decoram a casa, que pode não ter fogão, espelho ou cama, mas certamente é povoada por cachaça. Sem uma mulher por perto, eles bebem.

A ausência da mulher, e a violência que surge como reflexo dessa lacuna, nos leva a imaginar como ela seria — mas, ao contrário dos homens que buscam imortalizar seus feitos através de planos fechados e gestos de agressão, ela se esquiva da imagem. É fascinante perceber como Rassi se revela um diretor astuto ao mostrar esses personagens incapazes de expressar sentimentos profundos, exceto por meio de violência e da bebida.

Sem delongas, Oeste Outra Vez é um filme objetivo, com uma mensagem consistente ao longo de toda a projeção. À medida que a história se desenrola, os elementos de subtexto ganham mais substâncias, tornando a obra ainda mais poderosa e delicada. A inserção de personagens secundários que também sofrem com a falta ou o excesso de sentimento (como eles próprios afirmam) é um exemplo raro de como usar a redundância de modo eficaz, sem se tornar exaustiva. Na verdade, cada repetição é enriquecida por novas nuances que aprimoram a narrativa e a tornam mais densa.

Em suma, Oeste Outra Vez se revela como uma das obras mais competentes de 2025, difícil de ser superada no que tange à sua abordagem e execução. Resta agora aguardar para ver se este impressionante trabalho será reconhecido pelo público de maneira proporcional ao seu valor artístico.

Acompanhe o Veredas nas redes sociais e fique por dentro de tudo!

ASSUNTOS

Publicidade

Mais lidas

Publicidade