
Por mais conhecido que seja graças a O Labirinto do Fauno e A Forma da Água, os primeiros filmes de Guillermo del Toro permanecem pouco discutidos e raramente redescobertos.
Por isso, quando a 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo anunciou a exibição de Cronos, seu primeiro longa, restaurado, foi impossível não se emocionar com a chance de revisitar o nascimento de um dos grandes gênios da sétima arte.
Na mesma semana, também assisti à sua versão de Frankenstein, com lançamento previsto para os próximos dias na Netflix, o que tornou ainda mais excitante acompanhar a evolução de um diretor que se consolidou como um dos nomes mais influentes da contemporaneidade.

Nesse caso, Cronos é um filme de vampiros, mas que foge ao terror tradicional. A narrativa acompanha um homem que luta para sobreviver diante de sua condição, enquanto sua filha o protege e criminosos perseguem o dispositivo que garante sua eternidade.
Percebemos assim que, desde cedo, o diretor tem interesse não apenas pelo sobrenatural, mas também pelas relações humanas e familiares, temas que permeiam toda a sua carreira.
Consequentemente, a sensibilidade de del Toro se reflete na construção visual e sonora do filme. A trilha melodramática acompanha o drama dos personagens, enquanto cores e sombras evocam o expressionismo alemão, remetendo a obras como Nosferatu.
Até nos momentos de violência, a emoção permanece, mostrando que o diretor já dominava a arte de equilibrar intensidade narrativa e poesia visual.
No final, percebemos como Cronos é um filme simples, mas cheio de coração, assim como seu criador. Sem buscar reinventar o gênero ou impressionar com efeitos grandiosos, del Toro se concentra em contar histórias que alcançam diferentes públicos, exibindo que, mesmo à margem da sociedade, é possível se fortalecer e desafiar o mundo.
A obra, modesta em escala, já anunciava a genialidade de um diretor que continuaria a transformar o cinema.
Filme visto na cobertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo












