Melodrama sobre vampiros, Cronos de Guillermo del Toro é uma aula de poder de síntese

O filme restaurado foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
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Cronos marcou a estreia cinematográfica de del Toro / Foto: Divulgação

Por mais conhecido que seja graças a O Labirinto do Fauno e A Forma da Água, os primeiros filmes de Guillermo del Toro permanecem pouco discutidos e raramente redescobertos. Por isso, quando a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo anunciou a exibição de Cronos, seu primeiro longa, restaurado, foi impossível não se emocionar com a chance de revisitar o nascimento de um dos grandes gênios da sétima arte. Na mesma semana, também assisti à sua versão de Frankenstein, com lançamento previsto para os próximos dias na Netflix, o que tornou ainda mais excitante acompanhar a evolução de um diretor que se consolidou como um dos nomes mais influentes da contemporaneidade.

E, na ocasião, Cronos é um filme de vampiros, mas que foge ao terror tradicional. A narrativa acompanha um homem que luta para sobreviver diante de sua condição, enquanto sua filha o protege e criminosos perseguem o dispositivo que garante sua eternidade. Percebemos assim que, desde cedo, o diretor tem interesse não apenas pelo sobrenatural, mas também pelas relações humanas e familiares, temas que permeiam toda a sua obra.

Consequentemente, a sensibilidade de del Toro se reflete na construção visual e sonora do filme. A trilha melodramática acompanha o drama dos personagens, enquanto cores e sombras evocam o expressionismo alemão, remetendo a obras como Nosferatu. Até nos momentos de violência, a emoção permanece, mostrando que o diretor já dominava a arte de equilibrar intensidade narrativa e poesia visual.

No final, Cronos é um filme simples, mas cheio de coração, assim como seu criador. Sem buscar reinventar o gênero ou impressionar com efeitos grandiosos, del Toro se concentra em contar histórias que alcançam diferentes públicos, mostrando que, mesmo à margem da sociedade, é possível se fortalecer e desafiar o mundo. A obra, modesta em escala, já anuncia a genialidade de um diretor que continuaria a transformar o cinema.

Filme visto na cobertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

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