MI8 é o grande encerramento de uma franquia que eleva seu protagonista ao mythos do cinema americano

A conclusão da franquia que perdura há quase 30 anos já está em cartaz nos cinemas de todo o mundo
Tom Cruise no clímax do último Missão: Impossível / Foto: Reprodução

A figura de Tom Cruise, por si só, é fascinante. Desde o primeiro Missão: Impossível, ele assumiu o papel de produtor e, aos poucos, conquistou uma liberdade criativa crescente dentro da franquia. Determinado a moldar a saga ao seu estilo, Cruise passou por diversos diretores até encontrar em Christopher McQuarrie o parceiro ideal — uma colaboração que teve início em Valkyrie (com McQuarrie como roteirista) e se fortaleceu em Jack Reacher, quando assumiu a direção.

Essa parceria encontrou seu ápice a partir de Missão: Impossível – Nação Secreta, quando Cruise, reconhecendo o domínio de McQuarrie sobre a fisicalidade e a tensão dramática em cena, confiou a ele a condução da série. Juntos, construíram uma das duplas mais sólidas e inventivas do cinema de ação contemporâneo, redefinindo não apenas o tom da franquia, mas o próprio papel de Ethan Hunt como herói moderno.

Essa evolução criativa atinge um novo patamar em Missão: Impossível – O Acerto Final. Aqui, Ethan Hunt e sua equipe do FMI enfrentam um inimigo diferente: uma inteligência artificial que ameaça desestabilizar o equilíbrio global. Em meio a escolhas que moldam destinos e a interferência de líderes poderosos, Hunt embarca em uma missão onde o tempo é o maior inimigo — e onde novas alianças serão decisivas para a sobrevivência da própria realidade.

Desde o início, Missão: Impossível nunca decepcionou como espetáculo cinematográfico. Mesmo em momentos mais frágeis, como sob o comando de J.J. Abrams, a franquia manteve sua identidade. Mas foi com a chegada de McQuarrie que Ethan Hunt se transformou em algo maior: não apenas o agente principal da narrativa, mas a própria força que impulsiona o enredo. A ação se tornou o centro gravitacional da história — não mais como consequência, mas como estrutura narrativa em si.

Esse movimento era inevitável. À medida que o cinema de ação se tornava mais visualmente ambicioso, os filmes da saga seguiram apostando em sequências coreografadas com precisão quase matemática. Porém, O Acerto Final representa uma virada. Produzido durante a pandemia e em meio a debates sobre o futuro das salas de exibição, o longa assume para si a missão de encantar o público mais uma vez. Junto a produções como Top Gun: Maverick, o fenômeno Barbenheimer e Avatar: O Caminho da Água, o filme marca o retorno do cinema-evento — um gesto quase político de resistência artística.

Mais do que entretenimento, M:I 8 apresenta um tema pulsante: a ameaça da inteligência artificial à humanidade. E, nesse contexto, o retorno ao analógico ganha peso simbólico. A obra defende a ação humana, o suor, o risco real. E quem melhor para representar isso do que Cruise? Ao se recusar a usar CGI exagerado, ele afirma que a alma do cinema ainda reside no gesto, no físico, naquilo que não se pode simular. Contra uma entidade digital, Ethan Hunt precisa ser mais do que um homem — precisa se tornar mito.

Essa mitificação é cuidadosamente construída. O olhar da novata Grace, os comentários surpresos de líderes mundiais, tudo contribui para erguer Ethan a uma figura quase lendária. O herói passa por um processo simbólico de santificação — até mesmo um renascimento — que o conduz a um destino maior. Visualmente, o filme é o mais inspirado da saga, e traduz com maestria essa filosofia: a máquina pode ser poderosa, mas o humano, com seus limites e escolhas, ainda é insubstituível.

Com isso, Cruise e Ethan se tornam praticamente indissociáveis. A narrativa não apenas homenageia a jornada do personagem, como também celebra a trajetória de seu intérprete, fundindo-os em um só. Há quem critique esse gesto como ego inflado ou autoindulgência, mas é difícil negar o impacto. Após quase três décadas, oito filmes e cenas de ação memoráveis, a franquia entrega um épico que, se não revoluciona, honra sua história com dignidade e emoção.

E mesmo em meio a tantas explicações e planos detalhados, O Acerto Final não esquece o essencial: o gesto. A relação entre Ethan e Tapeesa, por exemplo, é construída por olhares, silêncios e atitudes — gestos que dizem mais que palavras. No fim, são essas conexões humanas que prevalecem. E é nelas que o filme encontra sua mensagem de paz, simbolizada por um simples aperto de mãos no quadro final. Pode soar ingênuo ou até cafona. Mas, para mim, funcionou perfeitamente.

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