No meio da dança, O Melhor Amigo esconde sua superficialidade

O filme é o novo sucesso cearense do momento
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O Melhor Amigo é o primeiro filme dirigido por Allan Deberton após o sucesso de Pacarrete / Foto: Divulgação

Fazer cinema é sempre um desafio, e no caso de um musical, esse desafio se intensifica. Allan Deberton, diretor cearense com uma profunda ligação com a música, decidiu, com O Melhor Amigo, estrear no gênero. Após o sucesso de Pacarrete, que conquistou o público e a crítica, Deberton consolidou seu nome entre os grandes cineastas do Estado. O Melhor Amigo não apenas reafirma essa posição, mas a fortalece ainda mais. As músicas selecionadas são de alto nível, os atores apresentam grande carisma, e o cenário, a iluminação e as cores são de uma beleza arrebatadora, capazes de mascarar a fragilidade da história e o desenvolvimento raso do enredo.

Na trama, o protagonista em busca de uma autodescoberta, inclusive no campo sexual, viaja para Canoa Quebrada, um universo tão fantástico que até a “Broadway” faz parte dele. Tudo é envolto em cores vibrantes, uma atmosfera quente, apaixonante e sedutora, garantido, consequentemente, que o filme seja permeado por sexo. Funciona bastante até. Os personagens surgem, desde o início, com os corpos molhados por um produto que os faz brilhar. É tudo muito divertido e tendencioso ao campo da putaria. Um acerto. Além disso, a fusão das cores dos bares com o azul do céu e do mar cria uma paleta que faria qualquer filme baseado em quadrinhos ou fantasia sentir inveja. Deberton tem um estilo visual inconfundível.

Para melhorar, as músicas do longa são, de fato, excelentes. O problema é que está excessivamente evidente que foram gravadas em um estúdio. Embora todo musical seja feito dessa maneira, a magia do gênero está em criar a ilusão de que não é, ou ao menos em não deixar isso tão claro para o espectador. Já na primeira música, é possível perceber que o diretor falhou no design de som. Pelo menos as coreografias são bem elaboradas, e os atores se entregam com expressões faciais e gestos, conseguindo, em vários momentos, criar a suspensão da descrença que só um bom musical é capaz de proporcionar.

O roteiro, por sua vez, é quase inexistente. Os personagens não evoluem de forma significativa, começando e terminando da mesma maneira. Para piorar, o texto, por vezes pouco convincente, é interpretado com certa preguiça por alguns nomes secundários, que, embora não essenciais à trama, servem quase como um suporte para o desenvolvimento bobo do protagonista.

No final, O Melhor Amigo é uma obra que se perde entre o deslumbramento visual e a fragilidade do seu roteiro. Deberton, ao buscar criar uma peça de entretenimento erótico com ares de Sessão da Tarde, parece ter esquecido que, para ser lembrado, é necessário mais do que apenas ser uma brincadeira de cores.

Confira a entrevista com o diretor Allan Deberton:


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