
Escrever um livro nunca foi tarefa fácil — especialmente quando o retratado é um artista por quem se tem profunda admiração. Contudo, esse foi o desafio assumido por Luã Diógenes, jornalista, pesquisador musical e escritor, que aceitou a honrosa missão de organizar e escrever a biografia do cantor e compositor cearense Ednardo. A obra foi lançada na última semana, na celebração de 80 anos do artista.
Em entrevista exclusiva ao Portal Veredas, concedida por ligação, Luã compartilhou os bastidores e detalhes do processo de criação da obra. Confira a conversa abaixo.
Como foi a responsabilidade de escrever esse livro?

Foi enorme. Eu estava em Portugal, fazendo meu mestrado, quando recebi uma ligação do próprio Ednardo. Ele foi direto: “Estou te ligando para ser o coordenador editorial do meu livro. São crônicas e poemas que escrevi ao longo de mais de 50 anos de carreira”. Topei na hora — é uma honra imensa. Ele me mandou o material para organizar, dar uma olhada, e pediu que eu escrevesse um texto biográfico, algo como um prefácio. Mas ao ler as crônicas, percebi que algo faltava para dar unidade à obra. Então sugeri fazer uma narrativa biográfica costurada com os seus textos. E assim construímos esse diálogo.
E como foi trabalhar com o Ednardo nesse processo?
Ele foi o grande maestro. Tudo passou pelas mãos dele. A equipe do livro é grande, mas ele acompanhou cada etapa. Tínhamos encontros semanais, ele leu tudo, aprovou tudo, sugeriu mudanças aqui e ali. Foi a primeira pessoa a ler a versão final e a última também, antes do envio à gráfica. É um livro com a cara dele.
Quanto tempo durou a escrita?
Foi um processo rápido, porque a base da pesquisa eu já tinha desde a época da faculdade. Sempre estudei o Ednardo e Pessoal do Ceará. Só precisei reorganizar as ideias e focar exclusivamente nele. Mas claro, apesar de ser um livro biográfico, não é uma biografia tradicional. É um livro grande, até difícil de manusear (risos), com um texto extenso que percorre as cinco décadas de carreira dele — desde as aulas de piano aos cinco anos até seu mais recente trabalho. Foi uma escrita intensa. Comecei em março (de 2024) e entreguei entre outubro e novembro. O prazo era apertado. Tom Jobim dizia que a musa dele era o prazo, e eu entendo bem isso agora.
O que ele achou do resultado final?
Gostou muito. Como eu disse, ele acompanhou tudo. Fez comentários, ajustes, interferências pontuais. Mas no geral, ficou feliz com o resultado. Foi emocionante vê-lo se reconhecer nas páginas.
Já existem planos para adaptação cinematográfica do livro?
Tem sim, mas não posso falar muito. O Ednardo é o autor e detentor dos direitos, então é ele quem conduz esse projeto. Mas já existe uma proposta de transformar o livro em documentário, com a direção do Petrus Cariry. A ideia é que não seja nem um documentário puro, nem uma obra ficcional — será uma mistura de tudo, como o próprio Ednardo. Está em fase de estudo e desenvolvimento. E digo mais: esse livro é só o começo. Ednardo fez 80, mas é mais jovem do que eu. Ele não para.