
“No hay banda” – frase escolhida por David Lynch em Mulholland Drive (2001) para explorar a falsidade inerente ao cinema, usando como pano de fundo o aspecto onírico de seu estilo e a aura da cidade de Los Angeles. Como se essa falsidade não estivesse apenas no dispositivo cinematográfico, mas também no tecido social que cerca a produção da arte.
Foi oportuno reassistir – e também acompanhar a nova temporada – da série de Nathan Fielder, O Ensaio, que analisa as possibilidades de conexão humana em meio à artificialidade do fazer audiovisual. Se David Lynch reconhece que, apesar dessa falsidade, ainda há uma ligação entre nós e o cinema, Nathan utiliza o cinismo de nossa geração para questionar se essa emenda, de fato, existe.
Cinco anos após o cult Nathan for You, Nathan Fielder embarca em uma nova série de experimentos televisivos. Desta vez, ambientado em um mundo onde nada parece acontecer como planejado, Nathan oferece às pessoas a chance de maquiar suas próprias vidas.

Em O Ensaio, Fielder acompanha indivíduos que precisam tomar decisões difíceis ou ter conversas delicadas, ajudando-os a simular todos os cenários possíveis para o evento em questão. Nathan explora cada possibilidade com seriedade, mas também desafiando os limites do absurdo. Além de apresentar o programa, o sujeito atua como diretor, roteirista e produtor da série documental.
O realizador vem do universo dos reality shows, tendo começado como produtor estagiário no Canadian Idol – que, como a maioria dos programas do gênero, tem pouco de “realidade”. Tudo é roteirizado, e a narrativa é conduzida como em um filme comum. No entanto, há uma dissonância: se a obra pretende transmitir autenticidade, ela falha.
Logo, o propósito é justamente exacerbar essa contradição, sempre testando a linha tênue entre o real e o encenado, valendo-se do absurdo e do constrangimento. Em Nathan for You, seu trabalho anterior, ele atuava no formato de reality show empresarial, no qual um “especialista” tenta “salvar” um negócio. Mas seu programa era uma paródia, evidenciando o ridículo por trás da glorificação do empresário excêntrico e genial – até que, no final, ele desmonta essa figura e revela o quanto o homem anseia por afeto.
Já em O Ensaio, Nathan se debruça sobre como, na era do cinismo das redes sociais, até as questões mais humanas e cotidianas são performáticas. Seu personagem fica desesperado por conexões genuínas, encontrando-as apenas por meio dos mecanismos da produção audiovisual. Há uma inversão curiosa: o real e o humano surgem justamente quando um ator se coloca diante da câmera.
Em sua segunda temporada, o diretor já apagou completamente a fronteira entre viver e gravar. Aqui, ele reflete sobre seu papel social como alguém que detém esse poder, usando a figura do palhaço como metáfora para seu lugar como comediante e entertainer. A segunda temporada de O Ensaio está apenas no segundo episódio – e eu já estou amando. Convido você a assistir a essa obra incrível.