Studio Ghibli e o problema da Inteligência Artificial

Texto de Tiago Amora, cartunista e ilustrador cearense desde 1989
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A baixa demanda e a desvalorização dos profissionais só aumentam. O conselho que eu deixo é: apoie seu amigo artista, divulgue seu trabalho, compre o que ele faz / Foto: Reprodução

Então, posso ou não criar meu avatar de inteligência artificial no estilo do Studio Ghibli? No primeiro momento minha resposta seria: você que sabe! Eu não sou seu pai! Só gostaria de levantar alguns pontos, afinal, isso é um tema que, para mim, enquanto artista, ainda não é 100% esclarecido.

O primeiro e mais sério ponto é a questão dos direitos autorais. Imagine que você não é artista, mas passou anos desenvolvendo algo ou criando uma solução em seu nicho. De repente, uma grande plataforma se apropria do seu trabalho, sem te pagar nada, e usa uma criação que levou décadas para se consolidar. Consegue imaginar? Pois é, esse fenômeno tem afetado muitos artistas ao redor do mundo.

O segundo ponto são os impactos ambientais. Sim, o seu avatar no estilo anime consome dados de poderosos processadores ao redor do mundo, que necessitam de grandes quantidades de água para manter o resfriamento desses equipamentos.

O terceiro ponto são as razões políticas. Estamos vivendo um momento histórico crítico de capitalismo tardio, precarização e uberização do mercado de trabalho. Embora a tecnologia, em teoria, devesse ser uma ferramenta para otimizar e melhorar as condições de trabalho, na prática, ela contribui para a precarização e cria um exército de reserva, essencial para a manutenção e valorização dessas ferramentas, vide exemplo do Uber.

O quarto ponto é uma máxima da internet: “Se algo é de graça, o produto é você”. Voluntariamente, estamos alimentando essas grandes plataformas com nossas fotos, dados e registros. No início, pode parecer inofensivo, mas já há provas de que esses dados estão sendo usados para fins políticos, como o mapeamento, segmentação e influência sobre as pessoas. Não se engane, na internet, nada é gratuito.

Levantado todos esses pontos, eu pergunto: há uma maneira de barrar isso? Boicotar essas ferramentas fariam elas perderem as forças? Inteligência artificial pode ser um aliado ao invés de um inimigo? O mercado de ilustração vai acabar?

Eu, pessoalmente, ainda não tenho uma resposta, mas posso afirmar que desde 2023 venho sentindo os impactos disso. A baixa demanda e a desvalorização dos profissionais só aumentam. O conselho que eu deixo é: apoie seu amigo artista, divulgue seu trabalho, compre o que ele faz. Hoje é o trabalho dele, amanhã pode ser o seu. O capitalismo só se importa com o capital. Por aqui, sigo resistindo o quanto for possível.

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