Alto Knights tem De Niro vivendo os dois lados da mesma moeda

O filme é mais um produto de máfia protagonizado por De Niro
Robert De Niro vive dois personagens em Alto Knights / Foto: Divulgação

Em seu livro Realismo Capitalista, Mark Fisher faz uma comparação instigante entre a máfia tradicional de O Poderoso Chefão – que representa um modelo econômico mais rígido e fordista – e a máfia de Bons Companheiros, que reflete uma abordagem mais liberal e individualista. Essa dualidade ideológica é explorada por Barry Levinson em Alto Knights, que apresenta uma disputa política entre essas duas visões, com Robert De Niro interpretando as figuras que personificam ambos os lados desse conflito.

O longa se inicia com violência explícita, apresentando logo de início o núcleo da narrativa, quando os personagens principais revelam seus planos de maneira clara. A presença de De Niro, interpretando os dois lados dessa “moeda”, simboliza perfeitamente essa dicotomia. Assim como nas obras mencionadas, o ator assume papéis emblemáticos: ele é Vito Corleone em O Poderoso Chefão 2 e Jimmy Conway em Bons Companheiros.

Ao interpretar Vito Genovese, De Niro transmite a brutalidade de seu personagem, com uma performance que remete a uma imitação magistral de Joe Pesci, enquanto, ao personificar Frank Costello, o ator traz à tona um lado mais diplomático e político.

Essa abordagem permite que o diretor do filme construa uma perspectiva clara sobre o confronto ideológico que se reflete na política americana. Além disso, a obra dialoga com a decadência do gênero de máfia, à medida que a indústria cinematográfica se distanciou da essência desse estilo de narrativa.

Frank Costello, com sua postura mais diplomática e democrática, representa uma direita moderada, enquanto Vito Genovese encarna uma direita republicana, que governa a organização mafiosa conforme seus próprios interesses e desejos. Por outro lado, a indústria cinematográfica, personificada por um comitê de outros líderes mafiosos, observa, com um certo fascínio, esse embate violento, no qual fica claro que Vito é uma ameaça à ordem estabelecida.

Em um contexto corporativista, onde o cinema mainstream se torna cada vez mais apolítico, com super-heróis e figuras sobrenaturais dominando as telas, surge a dúvida: será que o cinema ainda se interessa por pequenas intrigas políticas? O verdadeiro apelo do filme parece estar no caos, e o tipo de distúrbio que Vito provoca é, sem dúvida, muito mais fascinante.

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