O exagero fantástico

Texto de Barbara Câmara, jornalista e entusiasta de filmes de terror
“Vale a pena revisitar o tempo em que vampiros e lobisomens eram os nossos maiores problemas” / Foto: Divulgação/IMDb

Já se vão quase 21 anos desde a estreia de ‘Van Helsing: O Caçador de Monstros’ (2004), e a lembrança da época para o diretor Stephen Sommers e o elenco – liderado por Hugh Jackman – provavelmente não é das melhores.

Apesar de ter performado bem nas bilheterias, o filme foi dilacerado pela crítica especializada, salvo pouquíssimas exceções que, quando generosas, consideraram o longa “mediano”. Mas como sabemos, felizmente, o tempo pode ser muito generoso.

Hoje, ‘Van Helsing’ ocupa a lembrança popular como uma fantasia divertida típica dos anos 2000. Arrisco dizer que os fãs de terror o têm em mais alta conta. Pode até ser resultado da memória afetiva, mas acredito que o filme acumula créditos suficientes para que suas falhas não sejam um incômodo – não é um disfarce, sabemos que elas estão lá, mas seria loucura chegar aos minutos finais sem reconhecer que este é, sim, um belo entretenimento. 

O uso excessivo da computação gráfica, uma das características mais rechaçadas pela crítica, confere alguns elementos inovadores às representações já bem conhecidas no terror. Em dado momento, vemos um homem se transformar em lobisomem ao ser iluminado por um feixe da lua cheia, pela janela de um castelo. Embora cenas como essa tenham sido reproduzidas centenas de vezes, a ideia que Sommers traz à vida foge um pouco do esperado: ao invés de pêlos crescendo rapidamente sobre o corpo e unhas se alongando até formarem garras, o personagem rasga a própria pele em pedaços, como se despisse o “humano” para dar vez ao monstro. A proposta do diretor era mostrar que “a besta vem de dentro”.

O conceito visual para as noivas do Drácula também inova pelos extremos – indo da beleza imaculada, inspirada pelo trio já visto em ‘Drácula de Bram Stoker’ (1992), até o horror humanoide de pele acinzentada, asas e, é claro, presas afiadas. Vale ressaltar que o longa ultrapassou ‘Entrevista com o Vampiro’ (1994) como o filme de vampiros mais rentável da história, e manteve esse recorde até ser superado por ‘Crepúsculo’ (2008).

Durante as gravações, Hugh Jackman dividia sua rotina com a produção de ‘X-Men 2’ (2003). Ironicamente, o carisma que ele trouxe como Gabriel Van Helsing foi bastante comparado ao de Wolverine, ambos personagens sérios, impacientes e impulsivos. As comparações também chegaram à Kate Beckinsale, que interpreta a coprotagonista Anna Valerious. Seria impossível não lembrar de seu papel em ‘Anjos da Noite’ (2003), e embora a interpretação não impressione em nenhum dos dois filmes, a dinâmica com Jackman funciona em todos os momentos necessários.

A trilha sonora de Alan Silvestri é um dos pontos altos de ‘Van Helsing’, e seu brilhantismo dá às cenas muito da força de que precisam. Depois de 20 anos, o filme ainda é um dos exemplares mais divertidos do que o terror tem a oferecer, honrando a “leveza” das aventuras dos anos 2000. Vale a pena revisitar o tempo em que vampiros e lobisomens eram os nossos maiores problemas.

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