Elizabeth Teixeira, renomada líder camponesa da Paraíba, celebra hoje, quinta-feira, 13, seu centésimo aniversário. Para marcar a data, ela será homenageada no Festival da Memória Camponesa, que ocorrerá de hoje até sábado, 15, no município de Sapé, na Paraíba.

Elizabeth foi companheira de João Pedro Teixeira, ícone da resistência no campo e fundador da Primeira Liga Camponesa da Paraíba, uma organização criada na década de 1950 para lutar pelos direitos dos trabalhadores rurais.

O renomado cineasta Eduardo Coutinho, falecido em 2014, registrou a história da família Teixeira no aclamado filme Cabra Marcado para Morrer (1984).

João Pedro Teixeira, que já estava sendo alvo de ameaças de morte por latifundiários da região, foi assassinado em Sapé, em 1962. Coutinho desejava retratar esse episódio, mas as filmagens foram interrompidas pela repressão militar. Só foram retomadas 17 anos depois, em 1981, quando Elizabeth, para se proteger, vivia sob uma nova identidade no interior da Bahia, longe de seus filhos, que estavam espalhados pelo Brasil.

A segunda parte do documentário amplia a voz de Elizabeth, que narra a experiência da clandestinidade. Cabra Marcado para Morrer é considerado um marco do cinema brasileiro e em 2015 ficou em 4º lugar na lista dos 100 filmes mais importantes da cinematografia nacional, da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).

Em 2013, Coutinho voltou a se aproximar da história da família Teixeira ao gravar o média-metragem A Família de Elizabeth Teixeira.

Memorial na Paraíba

No Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, instalado na casa onde Elizabeth viveu com sua família, na Comunidade de Barra de Antas, em Sapé, será aberta nesta sexta-feira, 14, a exposição 100 Faces de Elizabeth Teixeira. A data também marcará o lançamento do acervo digital da entidade, com documentos, imagens e registros sobre o tema.

O observatório De Olho nos Ruralistas lançou em 2023 um documentário sobre a líder paraibana, intitulado com seu nome. Alceu Luís Castilho, diretor e editor-chefe do projeto, destaca que o filme de Eduardo Coutinho sobre João Pedro e Elizabeth Teixeira reflete um momento crucial do Brasil, em que a reforma agrária já era demonizada pela direita, e a influência das Ligas Camponesas se estendeu a movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), fundado em 1984 no Paraná.

“O principal ponto da história das camponesas no Brasil é a invisibilidade. Elizabeth, em muitos momentos da sua vida, foi invisível, assim como tantas outras camponesas, cujas histórias de violência se repetem”, afirma Castilho.

Para o jornalista, a luta de Elizabeth e João Pedro por terra e reforma agrária permanece inacabada. “A reforma agrária precisa ser retomada. Ela ainda não foi debatida como deveria, tanto pela mídia quanto pelos governos”, conclui.