
Sentado na primeira fila do cinema, Milton Nascimento assistiu aos depoimentos na tela com um sorriso e um olhar emocionado. Mesmo aos 82 anos, e com uma carreira repleta de conquistas, não é possível permanecer indiferente ao ouvir tantos artistas, brasileiros e internacionais, falando dele com respeito e admiração.
O documentário Milton Bituca Nascimento será lançado nos cinemas brasileiros hoje, quinta-feira, 20, mas as sessões de pré-estreia já ocorreram em Belo Horizonte e São Paulo. Na noite de segunda-feira, 17, foi a vez do Rio de Janeiro. Com quase duas horas de duração, o filme registra os bastidores da turnê de despedida do músico em 2022 e o reencontro com fãs de diferentes partes do mundo.
“Estou muito feliz com o filme, especialmente ao pensar nos tantos amigos preciosos que a vida me deu e que estão ali presentes. Sou imensamente grato por todo o carinho e amor que recebo de tanta gente. Ao longo de toda minha trajetória, fui guiado pelas amizades e pela música, e isso é o que realmente importa na minha vida”, declarou Milton.

Mais de 40 personalidades, tanto brasileiras quanto internacionais, deram depoimentos sobre Milton. Entre os artistas mais renomados estão Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Chico Buarque, João Bosco e Ivan Lins. Porém, também marcaram presença nomes de gerações mais recentes, como Maria Gadú e Tim Bernardes, o que demonstra a influência atemporal de Milton.
Além das fronteiras do Brasil, a voz e o talento do artista conquistaram figuras tradicionais do jazz norte-americano, como Wayne Shorter, Stanley Clarke e Herbie Hancock, além de nomes do folk rock, como Paul Simon. Nos Estados Unidos, o cineasta Spike Lee fala sobre a proximidade e o fascínio que sente pelo cantor e compositor brasileiro. Assim como Fito Páez, um ícone do rock argentino.
Narrado pela atriz Fernanda Montenegro, de 95 anos, o documentário também aborda reflexões sobre como as questões raciais influenciaram a vida de Milton. Desde os episódios de discriminação racial na infância, em Minas Gerais, até o respeito que ele recebe de artistas e intelectuais negros. As falas da filósofa Djamila Ribeiro e dos cantores Mano Brown, Criolo e Djonga abordam esse tema.
Outro ponto tratado de forma breve no filme é o estado de saúde mais fragilizado de Milton. Ele enfrenta diabetes e, na semana passada, o filho Augusto Nascimento revelou que ele foi diagnosticado com Parkinson, o que acentua ainda mais suas vulnerabilidades.
De acordo com a diretora Flavia Moraes, as gravações para o documentário duraram dois anos. A produção conta com distribuição da Gullane+, apoio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativa do Estado de São Paulo e do Ministério da Cultura, através da Lei Paulo Gustavo, e apoio institucional da Ancine.
“Tive muita preocupação em não fazer um documentário em que todos apenas falassem bem. Mas, claro, não tem como evitar os elogios. Obviamente, há muitas homenagens, porque ele está se despedindo dos palcos. E o filme apresenta um recorte da sua vida, não uma biografia cronológica. Até porque um documentário de duas horas não conseguiria abranger a grandiosidade do Bituca”, explicou a diretora Flavia Moraes.