O pesadelo da realidade

Texto de Barbara Câmara, jornalista e entusiasta de filmes de terror
“‘Sonâmbulos’ é uma fusão entre o bizarro, a fantasia e o grotesco, resultando em puro entretenimento” / Foto: Divulgação

Uma bela jovem no Ensino Médio, um rapaz recém-chegado à escola. O que poderia ser o início de mais um romance clichê acaba tomando rumos de pesadelo em ‘Sonâmbulos’ (Sleepwalkers, 1992). O filme dirigido por Mick Garris tem o roteiro original assinado por ninguém menos que Stephen King — o que já é um bom sinal do que vem pela frente.

O longa começa com a chegada de uma dupla peculiar à cidade, um estudante e sua mãe, ambos reclusos em uma casa cercada por gatos. A família passa a ganhar atenção por colocar armadilhas contra os animais no quintal e, aos poucos, fica perceptível que a relação entre mãe e filho não é o que parece. Na escola, o jovem se aproxima da protagonista Tanya — interpretada por Mädchen Amick — que logo se atrai por ele, sem perceber que também está caminhando em direção a uma armadilha.

A atmosfera do filme preserva em boa parte a estética dos anos 1980, e mistura gore e body horror em uma representação desajeitada que, de algum jeito, acaba funcionando. Dedos cortados, fraturas expostas e sangue jorrando surgem na tela quando você menos espera, mas por um bom motivo: as criaturas violentas responsáveis por cada ataque são, supostamente, uma versão ancestral de vampiros de energia, capazes de mudar de forma.

O uso de efeitos visuais para emular a metamorfose dos monstros em cena foi um dos primeiros a serem registrados no cinema. Antes, a obra audiovisual mais relevante a utilizar essa tecnologia foi o videoclipe de “Black or White”, de Michael Jackson. O filme também inova por ser a primeira vez em que o mestre do terror escreveu um roteiro diretamente para o cinema, ao invés de adaptar uma de suas obras literárias. Stephen King ainda fez uma aparição especial no longa, como coveiro.

O trio principal traz uma dinâmica equilibrada: de um lado, temos o carisma e a inocência juvenil da personagem de Mädchen Amick – que estava em ascensão na época, como parte do elenco principal da série ‘Twin Peaks’ – e, de outro, a má intenção disfarçada de timidez do jovem Charles (vivido por Brian Krause) e o tom urgente e manipulador de sua mãe, Mary (interpretada por Alice Krige). Em alguns momentos, Krause escorrega e beira o caricato na interpretação, mas o exagero não compromete o filme; a obra se beneficia do absurdo.

Em sua essência, ‘Sonâmbulos’ é uma fusão entre o bizarro, a fantasia e o grotesco, resultando em puro entretenimento. A obra é, acima de tudo, inegavelmente original. Não há uma lição de moral para aprender e nem segredos profundos a desvendar: é o terror simples, direto e honesto, com uma boa dose de nostalgia dos anos 1990.

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