Com O Agente Secreto, KMF expõe um Brasil que luta contra o esquecimento

O filme estreia no dia 6 de novembro
Compartilhar
Na imagem, um dos melhores momentos da obra / Foto: Vitrine Filmes

Kleber Mendonça Filho é um dos cineastas mais completos do cinema brasileiro contemporâneo. Acompanhar sua trajetória é perceber o amadurecimento de ideias que se desdobram em camadas, ritmo, precisão e coragem.

Com O Agente Secreto, seu novo longa, cotado para o Oscar 2026, essa evolução alcança um ponto de tensão rara. Na estreia mundial em Cannes, no Grand Théâtre Lumière, a reação do público foi intensa, e o cinema parecia ter sido incendiado.

Dito isso, desde maio de 2025, o filme tem ocupado minhas atenções. O Agente Secreto não é apenas um dos trabalhos brasileiros mais impactantes dos últimos anos, mas também uma produção relevante no cenário global.

É um thriller político que combina a tensão de Brian De Palma, o delírio visual de David Lynch e o humor narrativo de Quentin Tarantino, filtrados pela luz quente e violenta do Recife de 1977.

Consequentemente, KMF vai além de simplesmente situar o filme na época da ditadura (palavra nunca citada no roteiro). Ele faz da repressão uma presença quase tangível, que se sente no corpo do espectador. O Agente Secreto combina drama, suspense, comédia e uma reflexão sobre medo e memória.

Além disso, o filme também é uma denúncia contra o esquecimento e uma batalha pela preservação da história. Ele resgata fatos e sentimentos, dá voz ao que foi silenciado e mantém vivas narrativas que tentaram apagar-se.

Na trama, Marcelo, vivido por Wagner Moura, chega ao Recife e tenta reconstruir sua vida, enquanto os fantasmas do regime o perseguem. Ele protege o filho e busca sobreviver em um país onde a opressão se esconde em cada esquina.

Com isso em mente, Moura entrega uma atuação contida, mas cheia de aflição, usando a presença física e o controle da voz para manter o personagem sempre à beira da ação. A inteligência de Marcelo aparece na paciência estratégica e na habilidade de agir no momento certo, se mostrando, então, como um dos melhores personagens da extensa carreira do ator baiano.

Do mesmo modo, o restante do elenco é afiado e bem desenvolvido, com personagens que poderiam facilmente protagonizar seus próprios filmes. O humor absurdo de todos eles aparece de forma precisa, equilibrando o drama e ampliando a estranheza da narrativa.

O filme, através de seu roteiro, equilibra suspense paranoico, aventura e tensões psicológicas de maneira singular, mostrando como Kleber transforma influências cinematográficas em uma linguagem própria e reconhecível. A fotografia, tingida de tons amarelados, evoca a textura das películas da época e fortalece a atmosfera da narrativa, enquanto a trilha sonora, escolhida com precisão, guia o espectador pelas emoções da história, culminando na melancolia de Ângela Maria nos créditos finais.

Cada elemento, imagem, som e ritmo, se une para criar uma experiência que é ao mesmo tempo intensa e delicada, reforçando o impacto do filme muito além da tela.

No fim, O Agente Secreto é sobre o Brasil, sobre o que foi, o que ainda é e o que tentamos esquecer. É sobre lembrar para não repetir, sobre rir para não enlouquecer, sobre correr sem saber de onde vem o tiro. É um filme de espionagem, de memória, de horror, de desejo e de resistência. Acima de tudo, é cinema que provoca, envolve e permanece.

Filme visto na cobertura do Festival de Cannes 2025

Acompanhe o Veredas e fique por dentro de tudo!

ASSUNTOS

Publicidade

Mais lidas

Publicidade