
Diferentemente do recente documentário sobre Martin Scorsese, disponível na Apple TV+, o filme sobre Kim Novak e sua carreira, com foco especial em Vertigo, de Alfred Hitchcock, parece não ter seguido um roteiro definido.
A atriz se permite divagar sobre suas memórias, enquanto a responsabilidade de organizar uma narrativa cronológica e coerente fica inteiramente nas mãos da equipe de montagem, que claramente enfrentou dificuldades para equilibrar o material em uma jornada consistente.
Os depoimentos, sem dúvida alguma, são valiosos. Novak fala com sinceridade sobre sua relação com o cinema, seus trabalhos paralelos a Vertigo e o envolvimento na construção de um dos longas mais importantes da história do audiovisual.

A produção se mostra competente ao intercalar essas memórias com imagens de arquivo e cenas do próprio filme, transportando o espectador para um período em que o cinema ainda carregava esperança, cores e entusiasmo.
O problema surge quando o texto emocionado da atriz entra em conflito com a abordagem visual do diretor. Planos desconexos, escolhas estéticas estranhas e a falta de ritmo prejudicam a experiência, deixando o trabalho simples demais diante de uma trama que merecia profundidade e cuidado.
Claramente a montagem teve que lidar com excessos de planos e contra-planos, tentando compensar a ausência de uma exposição mais estruturada, mas sem sucesso completo.
No fim, o resultado é um relato simples, quase amador, para uma trajetória suficientemente rica para inspirar algo grandioso, como o já citado documentário de cinco horas sobre Scorsese.
A obra sobre Kim Novak não chega a ser um desperdício total, mas infelizmente falha em fazer justiça à importância da atriz e de seu trabalho em Vertigo. Novak se emociona, revive memórias há muito guardadas, e sua melancolia transparece.
No entanto, a sensação de que o projeto foi mais uma tentativa de conquistar prêmios internacionais do que uma homenagem genuína é evidente, e isso acaba soando ofensivo para qualquer fã do clássico de Hitchcock.
Filme visto na cobertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo












