
Uma das minhas resoluções de ano novo para 2025 foi “falar mais com estranhos”. Achei exótico. Nunca fui um cara tímido, mas também nunca fui de puxar conversa com gente com quem não tenho muita intimidade. O que pode ser considerado algo, no mínimo, paradoxal, uma vez que sempre me considerei um ótimo ouvinte.
Por uma combinação de determinação e intervenção divina, essa acabou se tornando uma resolução de ano novo realmente cumprida. Na verdade, vem sendo cumprida. Não apenas foi realizada, mas há várias evidências de sua realização, incluindo fotos, textos, áudios e vídeos.
A realidade é que tudo acabou se transformando em um projeto jornalístico e social, mas ninguém havia deixado claro que não poderia virar trabalho. Na verdade, a experiência se tornou mais divertida (e bonita) assim: compartilhada. Deixou de ser algo só meu e se tornou algo para a cidade, algo para Fortaleza.

No dia 20 janeiro desse ano, comecei o projeto @humanosdefortaleza no Instagram. Criei o perfil e, no mesmo dia, peguei uma câmera semiprofissional da Nikon emprestada com meu melhor amigo. Fui à praia do Havaizinho com a dita cuja no pescoço. A ideia era fotografar um cidadão e pegar sua história. A história seria a que ele quisesse me contar; sem pressão por nada muito alarmante.
Meu primeiro entrevistado foi um homem chamado Mauro, de 37 anos. Mauro estava sentado próximo a uma das barraquinhas da praia e de vez em quando trocava olhares comigo e com a lente da minha câmera. Ele olhava pra mim como se eu fosse um turista perdido, mas ao mesmo tempo, parecia hipnotizado pelo ritmo da câmera balançando pra lá e pra cá no meu pescoço. Imaginei: “Nem que seja inconscientemente, acho que esse homem quer ser registrado.” Acabou que eu estava certo, pois, criei coragem para abordá-lo e Mauro me deu um dos relatos mais honestos e abertos que a página possui até hoje.
Acabei encontrando ele múltiplas vezes depois do seu relato, seja no mar como companheiro de um surf desleixado – da minha parte – ou andando nas areias do Havaizinho, sem rumo, mas ao mesmo tempo, no lugar que ele deveria estar.
Descobri rápido que eu tinha as doses de cara de pau e eloquência necessárias para exercer esse papel híbrido de entrevistador/fotógrafo. Não tinha medo de receber um não. Não tinha medo de conversar com as pessoas e perguntar sobre coisas pessoais. Tudo o que eu queria era ouvir dos outros, ao invés de falar. Primeiro absorver, pra depois expressar. Se a pessoa não quisesse fazer parte disso; tudo bem. Afinal, nem todo mundo acha uma boa ideia falar com estranhos.
Descobrir os fortalezenses me fez redescobrir a cidade. Desbravá-la. Não existem figurantes aqui. Todo mundo está vivendo seu próprio Céu e Inferno, tudo de uma vez só, em doses desregradas e por vezes injustas. Ouvir me ensinou muito, e compartilhar essa sensação me fez sentir mais útil do que nunca.
Depois de 27 anos, me senti um turista na minha própria cidade porque fui descobrindo, aos poucos, as histórias dos corpos que a preenchiam. E o espaço havia de ser preenchido, na verdade, não por coadjuvantes com medo de estranhos, mas por humanos na espreita, à espera de um desabafo sincero.
E um desabafo sincero para um desconhecido, percebi que, embora seja inesperado e, a princípio, assustador, pode ter um valor maior do que uma conversa com um amigo de longa data. Tudo depende da abertura, do cuidado e da empatia pelo fortalezense que está ali na sua frente.