
Às vezes, é preciso falar o óbvio – e, por incrível que pareça, isto nunca foi tão necessário. Estamos numa época em que a desinformação é mais popular que a verdade e quem sabe um pouquinho a mais é rotulado de ignorante ou, pior, mentiroso. Maldita era do bolsonarismo e do combate ao fascismo mundial.
O enfrentamento entre postagens (um festival de bobagens) e notícias sérias (apuradas, com fontes e tudo) virou praticamente um duelo, mas com bem menos glamour.
A internet, este terreno fértil de fofoca e memes, até ajudou a democratizar a informação. Mas, claro, também abriu as portas para uma avalanche de conteúdos manipulativos que surgem sem um pingo de veracidade. No X (a famosa rede social de Elon Musk), onde o esgoto parece dominar, a mentira parece estar mais confortável que um panda em seu habitat natural.

De jovens “aprendendo” a mentir, até os mais velhos espalhando fake news como se fosse uma tradição familiar, todo mundo tem um pedacinho de fabulação para chamar de seu. E quem organiza a festa? O próprio Elon Musk, claro, que tem um prazer sádico em espalhar desinformação para esconder ou disfarçar a podridão nazista que carrega dentro de si.
Nesse ambiente, desinformações sobre temas, como autismo, legalização das drogas, Israel vs. Palestina, e até a legalização do aborto, espalham-se mais rápido que fofocas sobre o Neymar, o que nos mostra a necessidade de um jornalismo mais cuidadoso e (por que não?) mais humano. A obsessão por simplificar tudo na era digital resultou numa verdadeira alfabetização rasa, de um conteúdo quase descartável, em que o título prevalece e o texto não. Pior: na maioria dos casos, os títulos também são ambíguos o suficiente para que haja interpretações e prints sejam divulgados sem contexto.
Dito isso, é hora dos jornalistas pararem de correr atrás de audiência a qualquer custo e focarem no que realmente importa: apurar informações de qualidade. Eu, que levo muito a sério essa profissão agridoce, prefiro manter aquele número de leitores que realmente se interessam do que ganhar milhares que preferem ler a masturbação de suas próprias crenças.
Por conseguinte, o jornalismo, embora não deva se render às fake news, pode, sim, aproveitar algumas de suas estratégias estéticas, mas, obviamente, com conteúdo responsável. A realidade é que essa pode ser a única maneira de manter a atenção dos desatentos, que se deixam levar por sensacionalismos baratos. As fake news até conseguem chamar atenção rapidamente, mas o jornalismo sério tem algo maior a oferecer: um trabalho social apurado e genuíno.
Para que o jornalismo continue relevante, é essencial que os leitores e os próprios profissionais confiem na função. Chega de ser uma piada; precisamos de respeito, e para que isto aconteça, é necessário trabalhar com seriedade: acordar cedo, conversar com pessoas, levar informação verdadeira e de qualidade ao público.
Esse compromisso com a informação também se reflete em outro grande desafio: a distribuição de conteúdo. Hoje, precisamos usar as mesmas ferramentas que os influenciadores digitais para alcançar um público maior. No entanto, a grande diferença é que não estamos aparecendo para vender produtos, polêmicas, a alma, mas para compartilhar conteúdo relevante e que realmente faça sentido, despertando o interesse de forma responsável.
E, por último, mas não menos importante: a alfabetização midiática. É necessário que se aprenda a diferença entre jornalismo e fake news. Essas palavras, assim como o alimento, têm gosto, cheiro, textura e você sabe exatamente quando estão e quando não estão cozidas. O compromisso com a verdade e uma apuração rigorosa é o que vai garantir que o jornalismo se destaque em meio ao turbilhão de desinformações que domina as redes sociais.
Portanto, parabéns a todos os jornalistas que ainda acreditam que a verdade tem valor. Vamos em frente, pois a batalha pela credibilidade e pela qualidade da informação está apenas começando.