
Pessoalmente, sou fã de filmes “Coming of Age”. Essas histórias sobre o amadurecimento sempre me atraem. Por isso, me interessei imediatamente quando percebi esses elementos no filme Parthenope: Os Amores de Nápoles. No entanto, logo percebi que a narrativa se dispersava ao tentar explorar a condição humana por meio de um estudo antropológico, com a protagonista sendo utilizada como a força central da trama.
O filme narra a trajetória de uma jovem bela e sedutora ao longo de sua vida. Parthenope (Celeste Dalla Porta), cujo nome remete à lenda mitológica que originou a cidade de Nápoles, utiliza seu charme e poder de sedução para conquistar diversos homens, trazendo intensidade à sua juventude. Como uma sereia, ela se envolve em paixões arrebatadoras e relacionamentos proibidos, transformando a vida de todos ao seu redor. Sua presença alterna entre momentos de pura alegria e uma melancolia profunda, deixando uma marca duradoura em quem cruza seu caminho.
Desde o início, o filme constrói Parthenope como uma figura divina, uma maravilha da humanidade, claramente homenageando sua cidade natal, Nápoles (na mitologia, a deusa Parthenope é responsável pela criação do município).

A personagem compartilha desse amor pela localidade, e o filme logo destaca o encanto que ela exerce sobre os homens ao seu redor, a quem ninguém parece resistir. Cada pretendente representa um arquétipo masculino, o que já sugere um tema amplo demais para ser totalmente explorado no longa.
Assim, vemos a protagonista sendo arrastada por diversos caminhos, crescendo e amadurecendo nesse mundo. Se no início ela é retratada como uma figura pura e quase celestial, à medida que conhece o lado sombrio da humanidade, começa a perder essa inocência.
A narrativa segue uma estrutura clássica de Coming of Age, mas carrega um olhar pessimista característico do diretor Paolo Sorrentino. É como se a humanidade estivesse corrompendo seu próprio paraíso – Parthenope, uma metáfora para a cidade de Nápoles, é uma mulher que tem apenas amor a oferecer, mas acaba sendo manipulada e maltratada pelos homens ao seu redor.
A partir disso, o filme falha ao tentar mesclar essa mitologia fantástica com um estudo antropológico de viés social. Quando uma figura feminina é usada como objeto de análise ou arquétipo narrativo, há aspectos fundamentais dessa construção que moldam sua visão de mundo e sua posição na sociedade.
Não se trata apenas de um “local de fala”, embora isso também seja relevante, mas parece que Sorrentino não demonstrou grande interesse em aprofundar essa perspectiva. Isso enfraquece o drama ao abordar certos temas propostos pelo próprio filme.
Por exemplo, quando Parthenope se vê obrigada a subverter seu charme – inicialmente puro e divino – para manipular alguém, a cena perde força como um estudo social ao desconsiderar o ponto de vista feminino. No final, o longa prioriza a estética de sua bela fotografia bucólica em vez de aprofundar sua análise.