Terra Estrangeira: 30 anos de exílio, identidade e recomeço

Conheça um pouco mais da produção protagonizada por Fernando Alves Pinto e Fernanda Torres
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Cena do filme Terra Estrangeira, de 1995 / Foto: Divulgação

Em 2025, Terra Estrangeira comemora seus 30 anos de lançamento, e com isso, é impossível não refletir sobre o impacto duradouro que este filme teve na história do cinema brasileiro. Dirigido por Walter Salles, em parceria com Daniela Thomas, o longa não apenas é um marco na retomada do cinema nacional após os estragos provocados pelo governo Collor, mas também um relato pungente de uma juventude imersa nas incertezas de um Brasil marcado pela instabilidade política e social do início dos anos 1990.

O filme, que atravessa continentes e conflitos, é uma representação simbólica do exílio em suas múltiplas formas, como já afirmou o próprio Walter Salles: “se há um filme em que todas as formas possíveis de exílio se encontram, é Terra Estrangeira”.

Essa abordagem, que vai desde o exílio político e econômico até o amoroso, permeia todo o enredo e a trajetória dos seus sofridos protagonistas.

Cena do filme Terra Estrangeira, de 1995 / Foto: Divulgação

Do que se trata o filme?

A trama, que foi filmada ao longo de apenas 10 dias em São Paulo durante o carnaval e em menos de quatro semanas em Portugal, explora temas como o deslocamento e a solidão. A história começa com uma imagem poética e metafórica de um navio encalhado em uma praia, simbolizando o naufrágio de promessas não cumpridas e o exílio de personagens perdidos em busca de sentido e estabilidade.

A obra foi filmada em três continentes diferentes em um período de cinco semanas, com a cena crucial do navio sendo rodada em Cabo Verde, na África, em apenas um dia.

O enredo segue a jornada de Paco (Fernando Alves Pinto), um jovem que, após a morte de sua mãe, se vê mergulhado na amargura em um Brasil marcado pela instabilidade política. Ele acaba se envolvendo com o criminoso Igor (Luís Melo) e é enviado para Portugal com a missão de entregar uma mercadoria. Ao chegar, seus caminhos se cruzam com os de Alex (Fernanda Torres), com quem viverá dias intensos e transformadores, longe de casa e em busca de respostas. A relação entre os dois personagens, repleta de emoções conflitantes, reflete a busca por recomeços.

Cena do filme Terra Estrangeira, de 1995 / Foto: Divulgação

O simbolismo de Terra Estrangeira

Na ocasião, a película também faz um retrato de uma geração, marcada pelo cinismo e pelo esvaziamento dos direitos e da dignidade, ao mesmo tempo em que explora temas universais como a busca por um lugar no mundo e o desconforto existencial.

Ao longo de sua trama, Terra Estrangeira não deixa de explorar a solidão e a busca por uma reconexão emocional, refletida nas ausências de figuras paternas e maternas que, de maneira concreta e simbólica, moldam as jornadas de seus protagonistas. Esse tema já foi abordado em diversos filmes do diretor, como no aclamado Central do Brasil e no premiado Ainda Estou Aqui.

Além disso, a simbologia de Portugal, o país que “nos descobriu para nos abandonar”, como disse o próprio Salles no livro sobre sua trajetória como diretor, escrito por Marcos Strecker, torna a conexão entre Brasil e o país europeu algo mais do que um simples jogo de espelhos; é uma reflexão profunda sobre os laços históricos e culturais que unem as duas nações.

Daniela Thomas e Fernando Alves Pinto / Foto: Divulgação

A produção

Os personagens de Fernando Alves Pinto, no papel de Paco, e Fernanda Torres, em um dos papéis mais marcantes de sua carreira, são, sem dúvida, o coração pulsante do filme. A melancolia de suas histórias se entrelaça com a fotografia deslumbrante em preto e branco de Walter Carvalho, que captura, de forma única, a turbulência emocional de cada sentimento.

Em termos de trilha sonora, Terra Estrangeira se destaca por sua imprevisibilidade. As músicas, como “Fran Dance”, de Miles Davis, e “Vapor Barato”, de Gal Costa, se tornam quase protagonistas da história, guiando o ritmo do filme. O fado, com sua carga de saudade e resignação, também marca presença, especialmente com a icônica “Estranha Forma de Vida”, de Amália Rodrigues, que se torna o reflexo da busca por identidade e pertencimento dos personagens.

Walter Salles e Daniela Thomas / Foto: Divulgação

O que mudou?

Terra Estrangeira foi um filme que, embora tenha alcançado 150 mil espectadores, não foi um grande sucesso comercial, mas sua importância para o cinema nacional é indiscutível. O filme representou um renascimento simbólico para o audiovisual brasileiro e foi um ponto de virada na invejável carreira de Walter Salles, que começou a consolidar um estilo autoral mais coletivo, marcando uma era de grande relevância para a sétima arte produzida aqui.

Hoje, ao celebrarmos os 30 anos de Terra Estrangeira, o filme continua a ressoar como uma obra fundamental não apenas na filmografia de Salles, mas também na história do cinema brasileiro. Revisitar essa obra é lembrar o poder de uma narrativa que transcende o tempo e as fronteiras, revelando uma geração em crise e, ao mesmo tempo, a força das histórias que continuam a nos inspirar.

Assista o mais recente episódio do Podcast do Cine Amora, uma entrevista exclusiva com Fernando Alves Pinto, o protagonista de Terra Estrangeira:

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