
A arte do cinema B sempre divide opiniões — e isso se intensifica quando chega às telonas. Fenômenos como Terrifier surpreendem justamente por isso. Mesmo não sendo fã do filme, reconheço sua repercussão. O estilo camp — exagerado, artificial e propositalmente brega, que abraça o mau gosto, o drama e o excesso como forma de expressão irônica ou cult, conceito popularizado por Susan Sontag — costuma ser de difícil digestão para o espectador médio, acostumado a esperar que o filme se explique, se justifique, se torne crível aos seus olhos. Até as obras mais fantasiosas parecem precisar de um “pé no chão” para serem aceitas.
Por isso, entendo as obras do diretor de Nas Terras Perdidas — que anteriormente comandou a saga Resident Evil nos cinemas, odiada pelo público, mas pela qual tenho bastante apreço. É interessante que o autor nunca pretendeu ser um guardião dos filmes B que chegam às telonas. Mas aqui estamos, e o principal representante desse movimento parece ser ele.
Uma rainha envia a poderosa feiticeira Gray Alys (Milla Jovovich) às misteriosas Terras Perdidas em busca de um poder capaz de transformar por completo objetos e pessoas. Baseado em três histórias de George R.R. Martin, o filme acompanha a jornada de Alys, que se une ao caçador Boyce (Dave Bautista) para enfrentar os perigos de uma terra sombria e conquistar uma força extraordinária.

No filme, Anderson executa suas intenções visuais de maneira fascinante. Ao comparar com outras adaptações das obras de Martin, fica claro que o diretor busca criar um cinema digital visualmente impactante. Sua visão da luz na mise-en-scène, quase como um golpe de pincel na tela, conduz o olhar do espectador por um vasto mundo distópico. A combinação de elementos góticos, religiosos, industriais e bélicos dá a sensação de que ele se torna, de certa forma, o verdadeiro representante do meme da “caveirinha do rock”.
Ao embarcarmos com os protagonistas nessa jornada épica e gótica por um mundo distópico, é impossível não reconhecer o esforço em criar cenários visualmente marcantes. Embora não sejam excessivamente elaborados, setpieces como um bonde suspenso, um círculo de fogo em uma fábrica radioativa ou um rio de caveiras sob a luz da lua cheia têm um charme próprio. São nesses palcos que bruxas, rainhas, inquisidoras e lobisomens se movem. A ação, por sua vez, segue o ritmo característico de W.S. Anderson, com cortes rápidos, slow motions e acelerações, elementos que sempre fazem parte de sua assinatura visual.
No entanto, todo esse esmero na construção dos personagens principais e dos ambientes se perde quando falamos das criaturas secundárias ou das tramas paralelas, que precisam se entrelaçar e se resolver em menos de duas horas. Isso torna o último ato uma correria narrativa, cheia de tropeços para que o filme explique suas próprias reviravoltas.
Em resumo, a obra é uma exaltação do cinema fantasioso B, feito com orgulho e sem medo. Sem vergonha de soar cafona, de parecer brega, de soltar frases de efeito da forma mais canastrona possível.