
O cineasta cearense Karim Aïnouz está prestes a concluir a montagem de Rosebush Pruning, seu mais recente filme e sua primeira produção desde Motel Destino (2024). Estabelecido em Berlim há cerca de quinze anos, mas sempre disposto a atravessar fronteiras, Aïnouz, aos 59 anos, declara se sentir à vontade “na aventura”.
Importante pontuar que ele é um dos destaques do 37º Festival Cinelatino de Toulouse, no sudoeste da França, que apresenta uma retrospectiva de sua obra nesta semana.
Em entrevista à AFP, o diretor afirmou: “A diferença é a língua. Falo inglês desde os 10 anos e morei nos Estados Unidos por 15 anos, então isso não é um problema. Mas, em um set de filmagem, me sinto mais à vontade com a minha língua materna, o português. No entanto, um filme não se resume ao set, é um processo de produção como um todo. E, nesse sentido, me sinto mais confortável em um sistema anglo-saxão”.

“Adoro a organização desse sistema, onde tudo é muito bem definido e as pessoas são extremamente competentes. Ao mesmo tempo, há o desafio de fazer um filme com poucos recursos… Talvez eu diria que me sinto melhor na aventura. Eu não estudei em uma escola de cinema, estudei arquitetura. E para mim, o cinema sempre foi, desde o início, uma forma de explorar campos diferentes. Quando fiz Motel Destino, tudo o que foi improvisado acabou na montagem final, e tudo o que foi planejado ficou de fora. Ou seja, testei algo aqui [no Brasil] que nos Estados Unidos não poderia funcionar…”, explicou.
Sobre o novo filme, disse: “Estamos no processo final de montagem, e na verdade me ausentei por três dias para vir a Toulouse. Trata-se de uma comédia contemporânea, que aborda o mundo dos privilégios. A inspiração vem de maneira bastante livre de um grande clássico italiano de [Marco] Bellocchio, De Punhos Cerrados (1965)”.
“Filmamos parte do longa em Castellterçol, próximo a Barcelona, embora o local em si seja, de certa forma, um país imaginário. Este é, sem dúvida, o filme mais ousado que já fiz. E o elenco é incrível: Ellen Fanning, Callum Turner, Pamela Anderson, a espanhola Elena Anaya… É uma história sobre uma família, algo que eu nunca havia explorado até agora. De fato, é uma experiência coletiva, quase como uma peça de teatro, de certa forma”, finalizou.
Há uma expectativa de que o filme seja um dos concorrentes no Festival de Cannes deste ano.
No lançamento de Motel Destino, o diretor conversou com o Cine Amora.